De Márcia Marques, especial para o Paraíba Feminina
Hoje o mundo está estranhamente surpreendido por um posicionamento nada novo vindo da Igreja Católica. Através de uma Carta da Congregação para a Doutrina da Fé (instância do Vaticano), a Igreja reafirma que não há Matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Sim, a bênção destacada nas manchetes refere-se ao Matrimônio.
Para que possamos entender: para a Igreja Católica, alguns dogmas são inegociáveis, pelo menos até esta parte da história do cristianismo no mundo. É o caso dos dogmas ligados aos Sacramentos, que são 7: Batismo, Eucaristia, Confissão, Ordem (o sacerdócio), Crisma (confirmação da fé quando mais consciente), Unção dos Enfermos e o Matrimônio. Este último baseia-se em “pacto matrimonial, pelo qual o homem e a mulher constituem entre si a comunhão íntima de toda a vida, ordenado por sua índole natural ao bem dos cônjuges e à procriação e educação da prole” (Catecismo da Igreja Católica). Dito isto, esclareço que o Sacramento do Matrimônio também não é concedido a um homem e uma mulher na chamada “segunda união”, ou seja, pessoas divorciadas, pois, para a Igreja, o Matrimônio é indissolúvel. E assim seguem-se normas e dogmas milenares perpetuados pela instituição.
Agora pergunto: e daí? Se você não é Católico esta Carta do Vaticano não vai alterar em absolutamente nada a sua vida. Se você é Católico e não concorda, só posso te dizer que você pode se unir a tantos outros que também não concordam e, através dos mesmos meios que levaram esta Carta a ser escrita, levantarem os questionamentos para que, na lentidão humana do que a Igreja sempre chama de Tempo de Deus, as coisas possam ser transformadas. Se você é Católico e veio até aqui ler e argumentar que “A Igreja não mudará”, você precisa estudar com mais atenção a história da Igreja, começando pelo Ato dos Apóstolos e tudo o que compunha a Igreja primitiva fundada por Jesus. A Liturgia como você conhece hoje nasceu das várias transformações da Igreja.
Sobre os homossexuais e pessoas em segunda (ou terceira, quarta…) união, a Carta reforça a posição da Igreja de lhes garantir o devido acolhimento, acompanhamento e, para a esfera civil, defende que todas estas pessoas sejam amparadas dentro da legislação, lhes garantindo dignidade de vida social e, em nenhum momento, as impede de viver e professar a fé católica.
O estranhamento do mundo ao se deparar com esta notícia hoje se deve à grande popularidade de Francisco. O Papa que veio quebrar algumas barreiras existentes entre Igreja e Sociedade é o mesmo Pedro (o Santo), que continua a caminhada de seus antecessores, que tanto já acertaram, erraram, erraram miseravelmente, evoluíram… compondo o vulcão em eterna erupção que é a sociedade judaico-cristã ocidental.
Com estas palavras não quero discordar de ninguém que não tenha gostado da pauta de hoje. Apenas me arrisco a ser uma ponte, por ser católica, para que possamos tentar um diálogo que vise a compreensão de todos os pontos de vista até chegarmos num espaço onde o acolhimento, a igualdade e a liberdade sejam uma realidade.
Se te interessar ler a Carta na íntegra, ei-la: Sobre a bênção de uniões de pessoas do mesmo sexo
Marcia Marques, jornalista