Era um domingo, antes do fim do mundo acontecer.
Nós nos abraçamos, cantamos, bebemos, rimos, comemos fava do Pinga.
Estava quente mais que o normal para o mês de março, e meu cabelo pingava de suor. Minha camisa estava ensopada. Todos estavam eufóricos e felizes. O ano não havia começado bom. Desde 2019 que nenhum ano começava bom. Mas para além da condição do brasileiro liso e triste, ainda tinha que lidar com o sofrimento da minha própria carne, e meu carnaval foi juntando, limpando, lavando e arrumando uma vida que me é tão preciosa quanto a minha própria.
Mas estávamos ali, com a espreita de uma doença terrível e mortal, que já chegava pelo mundo mas que ainda não tinha encostado em nós.
Vamos pular, vamos cantar, vamos viver! Somos jovens, somos livres!
Mas aí veio o fim do mundo.
Tudo parou. A dança, a música, as conversas, os abraços. Até os sorrisos foram embora debaixo de uma máscara. Quanto choro, quanta angústia e quanta saudade são possíveis de suportar?
O clichê do “amor vence tudo” parece que não é tão clichê assim, ele é real.
Aprendemos o conceito do Abraçar de Longe. Aprendemos a lidar com o medo e a solidão. Aprendemos a esperar pelos resquícios de felicidade.
Aquele foi o último dia antes do fim do mundo, e se eu pudesse voltar no tempo, seria naquele lugar que eu queria estar.
Laurita, te dedico.