Atualmente, cerca de 30 milhões de mulheres menstruam no Brasil — é o que aponta um relatório da ONG Girl UP lançado dia 8 de março sobre o tema. A pesquisa traz informações e debates ao redor do assunto, entre eles como a falta de acesso a produtos de higiene básica provoca evasão escolar e prejudica a carreira estudantil de milhares de jovens.
Em um país onde 1,5 milhão de brasileiras vivem em residências sem banheiros, a escola poderia ser um local para que mulheres tivessem acesso ao saneamento básico e a produtos menstruais. A realidade, porém, é diferente: de acordo com dados da Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar (PENSE) do IBGE de 2015, cerca de 213 mil meninas frequentam escolas que não têm banheiro em condições de uso. 65% dessas garotas são negras.
“Muitas meninas, por não terem absorventes e produtos de higiene menstrual, faltam às aulas. Pensando nessas 213 mil garotas que não têm acesso a banheiros em bom estado — levando em conta que elas ficam cerca de 5 dias menstruadas todo mês e que elas continuem indo ao colégio por pelo menos 5 anos –, imagina o quanto de aulas elas perderão? Precisamos pensar também em um segundo momento, mesmo que essa menina vá à escola, como é o aprendizado dela durante esses dias? Vamos imaginar que ela fique preocupada com a troca de absorventes (porque ela não tem outro, porque ela não tem dinheiro para comprar mais um), ela se sente envergonhada e isso prejudica o aprendizado dela”, alerta Leticia Bahia, coordenadora da ONG Girl UP.
Através de projetos de lei, porém, mulheres estão tentando inverter essa situação e garantir o direito pela dignidade menstrual a milhares de brasileiras. O que não significa melhoras apenas na saúde e na higiene pública, mas também implica em resultados positivos para a educação e a economia do país.
Pobreza menstrual é problema que afeta economia
Outro dado trazido pelo relatório da Girl UP aponta que 11% das brasileiras com mais de 80 anos não têm acesso à rede geral de distribuição de água. E essa porcentagem sobe para 17% entre meninas de até 19 anos. Ou seja: a maior parte das mulheres que não tem acesso ao saneamento básico estão em idade escolar, uma vez que a primeira menstruação acontece, em média aos 13 anos.
“A evasão escolar afeta a economia do país e essa é uma questão muito importante, porque faz com que encaremos esse problema não só como um problema de gênero. A correlação entre anos de estudo, qualidade do aprendizado e renda é direta. Quanto mais renda um indivíduo recebe, melhor também será a renda do país. Estamos falando da ‘dificuldade’ de um grupo especifico, mas que tem impacto direto no PIB de um país. Além disso, precisamos nos atentar nos problemas de saúde gerados pela pobreza menstrual”, pontua Leticia.
Acre, Maranhão, Pará e Roraima são os estados brasileiros que menos oferecem escolas com banheiros em condições apropriadas de higiene — faltam pias, sabonetes e papel higiênico. Segundo dados da PENSE, São Paulo e Distrito Federal são os únicos locais em que 100% dos alunos desfrutam de sanitários em perfeito estado de uso.
Para mudar essa situação, as ativistas da ONG Girl UP criaram uma rede de jovens que militam pela igualdade menstrual. Além de produzir o relatório, elas também criaram uma plataforma online com informações sobre o assunto (Livre para menstruar) e articulam, em gabinetes eleitorais de todo o país, alianças para que o projeto de lei “Menstruação Sem Tabu” seja aprovado pelo Brasil.
Aprovado por unanimidade durante a Sessão Extraordinária da Assembleia, o programa “Menstruação sem Tabu”, inclui ainda o fomento e a conscientização da população sobre a menstruação enquanto processo natural do ciclo de vida das mulheres. O projeto agora aguarda ser sancionado pelo governador do estado, João Azevedo.
“A falta de absorventes impacta até na evasão escolar. O projeto de lei ‘Menstruação sem Tabu’ visa, além da distribuição gratuita de produtos de higiene, gerar conscientização e levar informações sobre o tema, combatendo, dessa maneira, a desigualdade de gênero e social”, conclui.
Em âmbito federal, a deputada Tabata Amaral é relatora do projeto que prevê a distribuição gratuita de absorventes em espaços públicos, assim como já acontece com preservativos desde a década de 90.
da redação, com informações do Universa