As mulheres são 72% dos trabalhadores da saúde, mas, quando elas alcançam cargos de chefia, a distância salarial em relação aos homens é enorme. Mulheres em posições de liderança no setor ganham, em média, 37% do que recebem homens em cargos equivalentes.
É o que apuraram as pesquisadoras Cristiane Soares e Hildete Pereira de Melo, da UFF, ao analisar o emprego na saúde, a partir de dados do terceiro trimestre de 2020 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnadc), do IBGE. Eles ganham, em média, R$ 25.073. Elas, R$ 9.215.
Essa distância é bem mais acentuada que a verificada entre profissionais em cargos de direção no mercado de trabalho como um todo, no qual mulheres ganham 66% da remuneração média dos homens. Na educação, um ramo também majoritariamente feminino, o percentual é mais alto, de 85%, ainda que permaneça a desigualdade.
“As mulheres estão em carreiras menos valorizadas, como pediatria, clínica geral, e há mais homens na cirurgia, o que explica um pouco essa diferença”, afirma Cristiane.
Foi um setor que contratou na pandemia. A ocupação subiu 5% em um ano, 7% entre as mulheres. Mas, no geral, elas perderam espaço nas chefias e direções. A queda para elas foi de 24,2% contra 20,5% dos homens. Hildete explica que prêmios salariais por avanços na educação são mais expressivos para os homens: “O ganho da mulher sobe, mas numa proporção menor.”
Claudia Cohn é diretora executiva do Grupo Dasa. Biomédica, está na gestão há mais de 20 anos. Hoje, diz ver seu trabalho valorizado e a diversidade ganhando espaço nas empresas de saúde. Mas não foi sempre assim. No começo, viu colegas homens serem promovidos no seu lugar:
“Nos conselhos, na média mundial, há 23,8% de mulheres. No Brasil, são 11,5%. No setor de saúde, 4% setor de saúde, 4%. Dá para contar nos dedos.” Mas ela é otimista sobre o futuro das mulheres no setor: “Pela empresa em que trabalho e por ver as mulheres buscarem mais e mais formação, serem “raçudas”, focadas, perseverantes, criativas.”
Regina Madalozzo, economista do Insper, diz que, conforme se sobe na empresa, a diferença salarial aumenta: “Nos serviços de saúde mais respeitados, que pagam mais, os homens são mais presentes. As mulheres são chefes em clínicas menores.”
Leticia de Oliveira, coordenadora do Grupo de Trabalho Mulheres na Ciência da UFF, constatou que elas perderam mais na pandemia. Em pesquisa com 3.629 cientistas brasileiros entre abril e maio de 2020, as docentes submeteram menos artigos para publicação: 76% dos docentes homens sem filhos conseguiram preparar textos contra 47,4% das mulheres com filhos e profissionais negras.
Ela diz que, na universidade, a mulher está em coordenação de cursos de graduação, programas de extensão, orientação de alunos de iniciação cientifica, cargos que pontuam pouco e dão mais trabalho: “Há pouquíssimas reitoras no Brasil. São 30%.”
Da Revista PEGN