Os dias se passaram e eu, envolta em uma boa energia produzida pelo Festival Liberta, volto agora aqui para agradecer.
Já fiz vários agradecimentos individuais e em grupos, mas agora, 8 dias depois, faço de uma forma mais ampla, pois, as pessoas que elaboraram, executaram e participaram de alguma maneira daquelas 9 horas de live, não estavam sozinhas, as pessoas que acompanharam do começo ao fim e aquelas que entraram no percurso e ficaram para ver uma mesa ou alguma apresentação do seu artista querido, também colaboraram.
Minha enorme gratidão!
Vocês não imaginam (imaginam sim, tanto que o fizeram), o efeito que tal evento teve sobre mim!
A distância dos fatos e a “vida que segue” faz com que, naturalmente, esqueçamos que determinada situação ainda permanece, a injustiça permanece, a exclusão se acentua, a imagem distorcida toma forma de verdade e, imaginando que aquela pessoa que acompanhamos e nos solidarizamos em algum momento, está livre da tormenta, esquecemos dela.
Momentos como o Festival Liberta, vem nos mostrar que não! Que tudo de ruim ainda persiste e tende a se agravar. Vem lembrar que a solidariedade, a sororidade, a amizade ainda são imprescindíveis para a vida de quem ainda vive uma situação absolutamente injusta e até desumana.
Serve para renovar as forças, a fé e a esperança a fim de seguir em frente!
Gratidão pelo olhar! O seu olhar me concretiza!
Tenho tido tantos olhares atravessados, julgamentos antecipados e equivocados desde o dia que fui presa. E o que deveria servir como uma segurança para a justiça diante de alguém que, segundo seus algozes, representa uma ameaça à sociedade, como as medidas cautelares que sou obrigada a cumprir, serve de muito mais! Independente da intenção da justiça, os efeitos se ampliam e servem também para a humilhação constante, para a redução da cidadania de quem ainda não foi julgada ou condenada pelas vias normais da justiça, pois é constantemente atravessada pelo julgamento da mídia violenta e irresponsável, serve para a ameaça à saúde, serve como arma política, ou seja serve para castigar de várias formas, alguém que não foi ouvida e que não teve ainda o direito a defesa.
Minha gratidão ao Festival Liberta por me dar essa chance de ser vista, ouvida, sentida.
Tivemos também o aplicativo @vivacoozco que se envolveu organizando uma lojinha cheia de produtos doados pelas pessoas, para movimentar o dia e arrecadar um recurso a fim de me ajudar com a luta para pagar advogados. Estou sem renda alguma! Não tenho vínculos empregatícios e não consigo emprego – primeiro por não poder sair do Conde, depois por estar de tornozeleira e por fim, porque o Google nessas alturas está lotado de manchetes cruéis, que não condizem com a verdade e me condenam antecipadamente. Esses blogs vivem dos trocados dados pelos poderosos de plantão e têm como princípio a difamação e não a informação. O pouco, muito pouco mesmo, de recursos que tinha na conta conjunta com meu marido está bloqueado pela justiça, o carro não posso vender… Parece até que para viver teria que ter mesmo uma botija, enterrada em algum lugar. Não tenho. A herança do meu pai é a casa que moro e que ganhei, junto com meus irmãos, com ele ainda em vida, há muitos anos! A solidariedade tem sido, de fundamental importância!
Um fato muito interessante me chamou atenção nas informações trazidas pela @vivacoozco: todas as compras realizadas na feirinha durante o Festival foram feitas por mulheres!!! Nenhum homem comprou! Incrível né? Parece que solidariedade é coisa de mulher! Não. Sei que não é, pois tenho recebido muita solidariedade de amigos homens. Na Live mesmo podemos ver vários doando seu tempo, sua arte, sua competência! Obrigada companheiros!
Mas, esse não deixa de ser um dado intrigante, não é mesmo? Só mulheres acessaram a lojinha…
Fico aqui divagando… se fosse um ex-prefeito o que estaria acontecendo?
Já começa pelo fato dele poder não estar nem vivendo algo parecido!
Vejam o ex-prefeito de Campina Grande por exemplo. Foi citado pelo delator, nas mesmas páginas escritas pelo representante do MPE, na mesma época que fui levada à prisão e vem passando incólume, não foi preso, não teve a sua vida exposta e devastada dia após dia, a mídia nem deu conta disso! Sendo Campina Grande uma cidade de maior expressão que o Conde e ele um político de maior relevância. Não visualizo ele fazendo vaquinha eletrônica, rifas, festivais para pagar advogados. Posso até estar enganada. Com essa fala não quero dizer que o ex-prefeito é culpado de algo, longe disso! Nem que gostaria que ele passasse pelo que passei e passo até hoje. Só destaco que a forma de agir de algumas pessoas a frente das instituições e setores da comunicação, tem gênero!
Então, não é estranho que na luta por mulheres que vivem algum tipo de violência o gênero esteja presente! Acaba sendo natural que numa lojinha solidária as mulheres se envolvam mais.
É uma forma de luta bem feminina essa!
Cada vez mais imagino e acredito que nós mulheres devemos embarcar de cabeça nas lutas pelo bem comum! Somos criativas e solidárias na forma de lutar! Temos um conteúdo muito diferente na forma de expressar essas qualidades que estão disponíveis para todos os seres humanos.
Gratidão companheiras!
Na verdade, tenho dito tanto essa palavra que fico com medo que ela perca a força.
Tenho certeza que se dissermos juntas, juntos, esse risco não existirá. Pois, uma sociedade que não sabe o valor da gratidão está condenada a se transformar numa sociedade de escroques.
Temos um papel importante nisso. Eu tenho um papel nisso também! Por esse motivo estou aqui escrevendo tantas outras palavras que certamente servirão de base para o meu sentimento de profunda gratidão! Gratidão, gratidão, gratidão!
Gratidão companheiras e companheiros! A luta continua!
Márcia Lucena