Uma roupa íntima desconfortável ao ponto de machucar sua pele, mas que serve como um “lembrete físico diário dos convênios feitos com Deus”. Parece coisa da Idade Média, mas na verdade, data do século IX, e acredite se quiser, é usada ainda hoje.
Aos 33 anos, Sasha Piton está chamando a atenção na internet por levantar um assunto até então nunca debatido. Depois de uma simples caminhada perto de casa, Sasha notou que uma ferida estava se formando perto de sua coxa e o motivo foi logo identificado: as tais roupas íntimas sagradas, chamadas oficialmente de garment, e usadas pelos membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, da qual ela faz parte.
Os membros adultos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, conhecidos como mórmons, fazem promessas sagradas, conhecidas como convênios, para seguir os mais altos padrões de integridade moral e dedicação a Deus. Como parte desses convênios no templo, os membros recebem uma roupa de baixo frequentemente citada como “garment do templo” ou “garment do sacerdócio”. Diferente das outras roupas cerimoniais, o garment é usado sob as roupas normais do membro pelo restante da vida.
Mesmo relutante, Sasha parou de usar as roupas durante os exercícios e, ocasionalmente, as removeu durante a noite. Mas não foi só isso: numa publicação em seu Instagram, ela dirige seus comentários ao presidente da Igreja, Russell M. Nelson, de 96 anos. “Minha vagina precisa respirar”, completou. Com esse apelo, ela mobilizou mais de 18 mil mulheres que passam pelo mesmo perrengue. As suas postagens atraíram milhares de comentários e mensagens privadas, nas quais as mulheres expressavam suas frustrações com o traje sagrado: bainhas que coçam, costuras volumosas, cós pinicando e até infecções crônicas de ferimento causadas por tecidos que não respiram.
Ver essa foto no Instagram
A maioria dos membros ativos da igreja, incluindo jovens, leva a sério a regra de usar as peças com a maior frequência possível. Em uma pesquisa de 2016 com 1.100 mórmons, apenas 14% dos membros da igreja milenar disseram acreditar que era aceitável tirar as vestimentas caso se sentissem desconfortáveis.
Ao The New York Times, um porta-voz da igreja recusou um pedido de entrevista e não respondeu a uma lista de perguntas detalhadas. A maioria dos tecidos usados para fazer as vestimentas são sintéticos e cada peça é marcada com um símbolo sagrado. Enquanto esperam por mais melhorias no design, as mulheres compartilham dicas de como transformar a peça em algo mais confortável. Algumas pessoas viram suas roupas do avesso, para aliviar a pressão das costuras cortantes e muitas mulheres usam calcinhas tradicionais por baixo das roupas durante a menstruação.
da redação, com Revista Marie Claire