No Dia Estadual das Defensoras e Defensores dos Direitos Humanos, a importância do resgate histórico de Margarida Maria Alves

By 12 de agosto de 2021Paraiba

Em 12 de agosto de 1983, Margarida Maria Alves foi assassinada com um tiro de espingarda no rosto, disparado por um matador de aluguel contratado por latifundiários. Ela era agricultora, e há 12 anos presidia o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, numa atuação permanente pelos direitos das trabalhadoras e trabalhadores do campo.

Com o objetivo de promover a reflexão e a conscientização sobre a importância da defesa dos direitos humanos, a Lei 11.882/2021 institui o Dia Estadual das Defensoras e Defensores dos Direitos Humanos, a ser celebrado no dia 12 de agosto de cada ano, em homenagem a paraibana Margarida Maria Alves.

De autoria da deputada estadual Estela Bezerra, o projeto foi aprovado por unanimidade na Assembleia Legislativa da Paraíba em março desse ano e foi sancionada a tempo de garantir a celebração ainda em 2021.

Passados 38 anos do assassinato da ativista, o cenário para defensoras e defensores dos Direitos Humanos continua sendo hostil e violento.

“Nunca como antes foram tantos, tão ousados e tão velozes os ataques e as tentativas de desmonte, privatizações de empresas públicas e destruição de direitos e das políticas públicas governamentais conquistados nos últimos 80 anos”, afirma Alexandre Guedes, presidente da Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves – FDDH/MMA.

Na época em que Margarida foi assassinada, a pauta de luta era focada no acesso aos direitos trabalhistas, tanto para o campo, quanto para trabalhadoras e trabalhadores da cidade. O atual contexto social e político do Brasil levou a defesa de direitos humanos para um outro patamar.

Para Olímpio Rocha, presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos na Paraíba, o trabalho agora é voltado à garantia de direitos humanos para as pessoas em situação de maior vulnerabilidade social. “São pessoas que não têm sequer acesso à moradia digna, renda mínima e segurança alimentar. Hoje, esses são os pontos mais relevantes pelos quais nós, defensores e defensoras de direitos humanos, devemos lutar diuturnamente”.

Eleonora Pereira, do Coletivo das Mulheres Defensoras dos Direitos Humanos e do Movimento Nacional Mães pela Igualdade, ressalta o desmonte das políticas de proteção para defensores e defensoras de direitos humanos. “Houve redução de recursos e retirada dos programas de proteção. As defensoras e defensores passaram a viver muito mais numa situação de vulnerabilidade”. Ela também salienta que os defensores e defensoras brasileiras também sofrem com as constantes tentativas de criminalização do seu trabalho. “Nós só queremos garantir os direitos das pessoas e recebemos represálias por isso”.

O coordenador do Programa Estadual de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Ronildo Monteiro, considera que o cenário é ameaçador. “Há na atual conjuntura uma representação política, jurídica e de grupos religiosos muito forte que referenciam aqueles que detém o poder econômico, miliciano e que difundem princípios do fascismo, que ameaçam aqueles/as que defendem uma sociedade solidária, democrática e com vida digna para todos/as”.

Sobre a importância da Lei que homenageia o Dia Estadual das Defensoras e Defensores dos Direitos Humanos, Eleonora faz o resgate da importância de Margarida Maria Alves. “A companheira Margarida foi assassinada por lutar pra defender as trabalhadoras e trabalhadores rurais. Uma mulher de fala forte, uma guerreira, uma mulher que sabia o que queria, que não se calava, uma mulher que não se intimidava”, afirma Eleonora, que complementa:

“Uma lei que cria o dia das defensoras e defensores, que reconhece o trabalho e a luta dessa mulher, precisa ser parabenizada. Gratidão à deputada Estela pela ousadia, tão essencial no contexto de governo um genocida”, finalizou.

Ainda sobre a Lei, Olímpio Rocha compreende como um resgate histórico necessário. “A memória das lutas de quem veio antes de nós é crucial para que não se repitam os ataques que defensores e defensoras dos direitos humanos historicamente sofrem no nosso estado, além de fazer as novas gerações entenderem a importância de não se louvar qualquer mal feito contra a dignidade do nosso povo!”

Para Ronildo, a Lei, somada à outras iniciativas, “valoriza e explicita a importância de defender os/as militantes, os/as lutadoras do povo que lutam pelos direitos básicos e dignos para todas as populações”.

E para Estela Bezerra, autora da Lei, “A defesa da democracia brasileira é urgente, e precisamos cuidar de todas as vozes. A liberdade de expressão e de luta por direitos são fundamentais a todas as brasileiras e brasileiros, que jamais podem ser silenciados, ameaçados ou mortos por atuarem em defesa dos valores nos quais acreditam e dedicam sua vida”.

O 12 de agosto também marca o Dia Nacional do Defensor dos Direitos Humanos, o Dia Internacional da Juventude e Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo e pela Reforma Agrária.

Pela Paraíba, ações celebram a data

Pela manhã, a Secretaria de Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares da Paraíba (FETAG-PB) realizou uma roda de conversa com o tema “Violência contra lideranças políticas na Paraíba e no Brasil”.

Além da Fetag, participaram representações do Serviço de Educação Popular (SEDUP); Articulação de Mulheres Brasileiras; Comissão de Instalação do Memorial da Democracia da Paraíba; Fundação Margarida Maria Alves; e Programa Estadual de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos.

Ainda neste 12 de agosto, será lançado o Programa Estadual dos Defensores de Direitos Humanos da Paraíba – PPDDH/PB, que visa proteger as pessoas que sofrem ameaças em decorrência de sua atuação. O programa vai atuar na proteção de lideranças de movimentos sociais ameaçados de morte em nosso estado, que cumprem um papel essencial para o fortalecimento da democracia e no enfrentamento às graves violações de Direitos Humanos.

Participam do evento gestores, representantes do Poder Judiciário e representações de coletivos e grupos de Direitos Humanos. O evento acontece a partir das 15h e será transmitido de forma online.

da assessoria

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