Menina brasileira é agredida em escola de Portugal e abre debate sobre a violência contra brasileiros

By 11 de fevereiro de 2022Justiça

Com 11 anos, a estudante brasileira Maria sentiu na pele a violência que a família tentou evitar ao trocar o Rio de Janeiro por Portugal. É a mais recente vítima das crescentes agressões em escolas públicas do país. Com agravante: os golpes foram filmados, veiculados nas TVs portuguesas e compartilhados na velocidade dos socos e pontapés que recebeu de outra aluna.

As agressões sofridas na última semana (4)  pela brasileira, reveladas pelo Jornal de Notícias, transmitidas pelas TVs e que tiveram cobertura e análise na imprensa, chocaram e abriram os olhos da sociedade para os episódios de violência em idade cada vez mais precoce, bullying e comportamento das crianças nas redes sociais. E dentro das escolas, consideradas de excelência e que sempre aparecem como um dos motivos que levam famílias brasileiras a Portugal

Houve casos recentes de violência semelhantes com intervalo de menos de trinta dias em diferentes cidades e regiões do país. Em outubro de 2021, a Guarda Nacional Republicana (GNR) relatou 467 crimes nas escolas no ano anterior. Os registros têm vindo a descer, mas não parecem acompanhar a realidade das escolas.

A estudante brasileira chegou a frequentar aulas alguns dias esta semana até parar de ir. Ela contou que está bem, mas sente medo de ir à escola e ser agredida novamente, porque tem recebido a culpa pela dimensão que o episódio ganhou. A família já definiu que Maria será transferida de escola e ainda vai decidir se mudam de cidade.

“Estou bem, graças a Deus. Senti muitos olhares e (fiquei) um pouco mal. As alunas me culparam por minha mãe tentar me proteger e falaram que não deveria ter feito denúncia. Os professores me apoiaram, se preocuparam bastante, mas as alunas continuavam implicando um pouco”. contou Maria.

Questionada se sentia medo que a agressão se repetisse, respondeu: “Sim, tenho medo, sim.”

Antônia Silverlene Melo, formada em recursos humanos, natural de Ipueiras (CE), mas que vivia em São Gonçalo (RJ), disse ao Portugal Giro que resolveu prestar queixa à polícia e denunciar para tentar interromper o ciclo cotidiano de violência.

Ela contou que a filha foi agredida duas vezes na última sexta-feira, 4 de fevereiro. Só a primeira foi filmada pelos outros alunos, que não se envolveram, assim como nenhum professor ou funcionário, garantiu a mãe.

Mas o drama de Maria é antigo. Segundo Silverlene, a menina tem sido perseguida na escola e na internet há alguns anos por ser brasileira e considerada feia pelas amigas. A família está em Portugal desde 2018. Além dos insultos à aparência física, houve xenofobia dentro da escola, garantiu.

“Ela já entrou na turma com problemas anteriores. Diziam que ela era feia, esquisita e mandaram voltar para terra dela. Maria tinha um livro de uma série popular, “Death note”. E as crianças disseram que, por isso, Maria teria o poder de matar todo mundo. A partir daí, minha filha começou a falar com ela mesma que queria morrer e a turma passou a rejeitá-la” declarou Silverlene.

A perseguição continuou fora da escola. No dia do Natal de 2021, Maria recebeu mensagens no WhatsApp de uma aluna, que incitava a brasileira ao suicídio. Em outra mensagem, a agressora virtual dizia que ninguém na turma a amava e todos queriam que morresse.

A mãe garante que o diretor da Escola Básica Ruy D’Andrade foi informado e agendou reunião, que seria no dia da agressão, mas não chegou a acontecer.

Na sexta-feira, (4) Maria discutiu com a agressora antes de ser derrubada no chão da escola, durante o intervalo, e receber uma sequência de golpes na cabeça e chutes no corpo. Tudo filmado por pelo menos três estudantes.

“Meu diretor de turma falou para os alunos que não deviam ter gravado e, sim, chamado um responsável”, disse Maria.

Procurados, a escola e o agrupamento da qual faz parte não responderam. Mas em resposta à agência Lusa, foi informado que um inquérito está aberto. Ainda segundo a agência, “foi acionada a equipe técnica de psicologia para acompanhamento e apoio à aluna agredida e respectivos encarregados de educação”.

“A minha filha teve contato com a psicóloga uma vez, em janeiro, para tratar de depressão. Depois do episódio, não teve mais contato. Perguntei se a psicóloga conversou com ela, disse que não”. rebateu Melo.

 

com informações do Globo

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