Representatividade! Em busca de eleição inédita, mulheres trans miram o Congresso

Há 30 anos o Brasil elegia a primeira parlamentar travesti de sua história. Kátia Tapety, negra e nordestina, foi eleita vereadora da cidade de Colônia do Piauí, a cerca de 300 quilômetros de Teresina, pelo então PFL, atual DEM. Pioneira, ela ainda foi reeleita para outros dois mandatos, presidiu a Câmara Municipal da cidade e foi vice-prefeita.

Apesar de ter avançado na representatividade, passadas três décadas o Brasil ainda não elegeu uma pessoa trans ou travesti à Câmara dos Deputados, situação que pode mudar este ano, quando ao menos 11 partidos vão lançar candidaturas próprias, segundo levantamento do GLOBO.

Nas últimas eleições, os esforços estiveram voltados para as Câmara Municipais e Assembleias Legislativas. Em 2018, Erica Malunguinho (PSOL-SP) foi eleita a primeira deputada trans de um parlamento estadual no Brasil. E, dois anos depois, nas eleições municipais, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) registrou 30 candidaturas vitoriosas — aumento de 275% em relação ao pleito anterior. Entre elas, a das vereadoras Erika Hilton (PSOL), mulher mais votada do Brasil, e Duda Salabert (PDT), mais bem votada da história de Belo Horizonte. Este ano as três vão disputar uma vaga no Congresso Nacional.

“A avaliação do meu trabalho e desse processo político na Assembleia Legislativa de São Paulo deu respaldo para fortalecer mais candidaturas”, afirma Erica, que diz não defender apenas pautas LGBTQIAP+, mas de toda a população vulnerável. “A candidatura à Câmara diz respeito à representatividade. É entender que precisamos estar em espaços de decisão”.

A lista de pré-candidatas a deputada federal tem ainda nomes que estão tentando se eleger pela primeira vez e outras que são conhecidas do público, porém novas na política, caso da ex-BBB Ariadna Arantes.

“Sempre tive muito medo de entrar na política por saber que é uma briga muito grande. Mas com o passar dos anos, senti uma responsabilidade grande de representatividade no país que mais mata mulheres trans no mundo e mais agride LGBT. E o que menos dá oportunidade a essas pessoas” afirmou Ariadna.

A modelo recebeu convite para se filiar ao PP, mas acabou acertando a ida para o PSB. O interesse da sigla liderada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, mostra que as candidaturas de pessoas trans não estão mais restritas ao campo da esquerda.

O Cidadania é exemplo disso. Este ano, terá a arquiteta Mari Valentim como candidata a deputada federal. Vice-presidente do Ladies of Liberty Association e conselheira do movimento Livres, Mari conta que o convite partiu do presidente da sigla, Roberto Freire:

“Por conta dos movimentos que me apoiam, veio essa ideia de uma candidatura que possa romper com a questão das candidaturas trans ficarem apenas no espectro político da esquerda”, afirmou ela, que é a primeira mulher trans dirigente nacional do partido.

Embora seja um avanço para a comunidade LGBTQIAP+, a conquista de mandatos foi acompanhada de um aumento da violência política de gênero.

“As candidaturas ao Congresso são uma resposta que tem que ser dada, de que elas não vão se deixar intimidar pela violência. Poderiam se isolar, mas decidiram continuar resistindo e ampliando suas conquistas”, afirma Keila Simpson, presidenta da Antra.

 

do portal O Globo

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