De acordo com um levantamento realizado pela Folha de São Paulo, as mulheres são apenas 1 em cada 7 pré-candidatos a governos estaduais e número é menor do que o apresentado em 2018, quando atingiu 15% com 30 candidaturas
Em uma eleição que será marcada pela polarização e pelo forte enfrentamento entre progressistas e conservadores, os partidos têm adotado postura menos aberta à diversidade de gênero na definição de candidaturas nos estados.
Mulheres são apenas 1 em cada 7 pré-candidatos a governos estaduais, segundo levantamento feito pela Folha. O percentual é inferior ao registrado nas eleições de 2018 e poderá ser ainda menor, já que parte delas ainda não foi referendada por seus partidos.
Até agora, 22 mulheres se lançaram pré-candidatas a governos estaduais em um total de ao menos 161 nomes que devem concorrer aos governos dos 26 estados e Distrito Federal —o equivalente a 13,6%.
Em 2018, esse percentual chegou a 15% com 30 candidaturas femininas. Quatro anos antes foram 20 candidatas mulheres, representando 11% do total de postulantes a governos estaduais.
Apenas seis estados brasileiros já elegeram mulheres governadoras: Rio de Janeiro, Pará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Roraima.
O PSOL é recordista em pré-candidaturas femininas, com oito postulantes. Nem todas, contudo, devem chegar à eleição, já que há chance de alianças com outros partidos de esquerda em alguns estados. Não é o caso da Paraíba.
Aqui no estado, Adjany Simplício é a pré-candidata do PSOL ao governo e afirma que seu nome estará na disputa em outubro, num projeto socialista, antirracista, feminista e popular . “As candidaturas de mulheres e da negritude são prioridades assumidas no último congresso nacional do PSOL, com a aprovação de nossas teses. Estadualmente viemos nessa mesma orientação na construção de nossa estratégia. O meu nome vem sendo aceito e fortalecido internamente, com apreciação da nossa conferência eleitoral realizada agora em abril e estamos em fase de construção da vice-governança em coligação com a UP, compondo uma frente autêntica de esquerda sem qualquer flerte com a ultradireita golpista. Não abrimos mão disso pra construir o futuro da Paraíba”, afirmou Adjani.
O Rio Grande do Norte é o recordista nesse quesito: foram três governadoras desde a redemocratização. A última delas foi a atual governadora Fátima Bezerra (PT), única mulher eleita para um governo estadual em 2018.
Ela vai concorrer a um novo mandato em outubro e tentar repetir o feito de ser reeleita para um governo estadual, que só foi alcançado por duas mulheres no Brasil: Roseana Sarney, no Maranhão, e Wilma de Faria, no Rio Grande do Norte.
Fátima Bezerra vai para a disputa na condição de favorita, mas avalia o momento como de maior dificuldade para as mulheres.
Ela diz que a ascensão do presidente Jair Bolsonaro (PL) —que, em sua avaliação, comanda “um governo federal de perfil machista e misógino”— resultou em retrocessos em todos os espaços de atuação e participação feminina.
“Voltamos algumas casas nas nossas conquistas quando atravessamos períodos em que até mesmo a nossa existência é ameaçada por discursos de ódio e de violência e por políticas públicas facilitadoras da barbárie”, afirma.
Outras duas mulheres assumiram os governos estaduais em abril deste ano com a renúncia dos titulares para as eleições, mas não há garantia de continuidade.
No Piauí, a governadora Regina Sousa (PT), que assumiu o posto de Wellington Dias (PT), diz que não pleiteou disputar a sucessão por questões de saúde.
A governadora do Ceará, Izolda Cela (PDT), tenta se viabilizar para a sucessão, mas enfrenta concorrência interna de outros três nomes —todos homens— do seu partido, que também são pré-candidatos ao governo. A escolha deve acontecer em julho.
Estado nunca comandado por uma mulher, Pernambuco vive a situação inédita de ter duas mulheres liderando as pesquisas para o governo: a deputada federal Marília Arraes (Solidariedade) e a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB).
Marília Arraes, que teve que deixar o PT para viabilizar sua candidatura ao governo, classifica a política como um espaço ainda hostil às mulheres, que disputam em condição desigual no acesso aos recursos de financiamento e tempo de televisão.
Isso porque, na visão da deputada, a política ainda é um espaço majoritariamente masculino –pensado e ocupado por homens. “O meu partido está me tratando como prioridade e me dando esse espaço, mas isso é uma exceção na conjuntura partidária do Brasil.”
A parlamentar reconhece que, apesar dos avanços conquistados nos últimos anos, ainda há “um caminho muito longo pela frente”.
Raquel Lyra, que foi a primeira mulher a ser eleita prefeita de Caruaru, agora tenta ser a primeira governadora de Pernambuco. Ela destaca a maior presença feminina na eleição majoritária como um marco para o estado.
Por outro lado, também avalia que o avanço das mulheres é brecado pelas instâncias decisórias dos partidos. Quanto mais importante é o cargo, maior é o desafio para a consolidação de candidaturas femininas.
“O desafio é garantir candidaturas que sejam viáveis. Não é fácil se manter de pé, a caminhada para a mulher é sempre difícil”, afirma.
Em 2018, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) definiu que ao menos 30% do fundo público de financiamento de campanhas, o chamado fundo eleitoral, devem ir para candidaturas femininas.
Cabe aos partidos decidir quais candidaturas serão beneficiadas com os recursos para candidaturas de mulheres, o que inclui candidaturas majoritárias com homens como cabeça de chapa e mulheres como candidatas a vice. Com isso, o número de mulheres candidatas a vice cresceu tanto na disputa presidencial quanto nos estados.
Pelo cenário das pré-candidaturas desenhado até o momento, apenas 14 das 27 unidades da federação terão mulheres como candidatas a governadoras. Mas são poucas que serão uma prioridade de seus partidos em nível nacional.
Ela diz ainda que seu partido enfrentou pressão de outras legendas para desistir de lançar seu nome e formar alianças locais. “Eles enxergaram em mim o potencial e analisaram a minha candidatura pelo critério de quem tem condição de disputar, não se é homem ou mulher.”
Para Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da UnB, uma hipótese que pode ajudar a explicar a baixa representatividade feminina que se desenha para 2022 é, justamente, a atuação dos partidos políticos e de seus dirigentes.
“Sem a existência de uma legislação que exija que os partidos abram espaço para as mulheres, enxergamos que a roda segue girando do jeito que está azeitada. Ou seja, é mantido o controle dos homens sobre os recursos partidários, o que inclui o direito de candidatura, que segue produzindo esse desequilíbrio muito grande.”
Para ela, também há uma reação “silenciosa, embora com efeito forte” dentro das próprias legendas à pressão cada vez mais crescente por participação das mulheres na política, no sentido de “uma reafirmação do controle masculino nos partidos”.
Além disso, Biroli destaca o que considera “desmantelamento de políticas públicas para mulheres” no governo de Jair Bolsonaro e a violência política contra as candidatas —o que pode contribuir para a diminuição da participação das mulheres.
Ao todo, dez partidos devem lançar candidatas mulheres a governos estaduais: PSOL, PDT, PT, MDB, PSDB, PSB, União Brasil, Solidariedade, PMB e PCB.
Para o Palácio do Planalto, o MDB lançou a senadora Simone Tebet (MS), e há outras duas postulantes mulheres: Vera Lucia (PSTU) e Sofia Manzano (PCB).
O MDB também lançou Teresa Surita ao Governo de Roraima e a deputada federal Mara Rocha ao Governo do Acre.
O PDT tem quatro pré-candidatas: além de Izolda Cela no Ceará, o partido prepara as candidaturas da senadora Leila Barros, no Distrito Federal, da vice-governadora Lígia Feliciano, na Paraíba, e da defensora Carol Braz, no Amazonas.