O tempo médio de duração de um casamento no Brasil diminuiu 18,7% em uma década. Enquanto em 2010 as relações conjugais costumavam durar 16 anos, em 2020 a média caiu para 13 anos, de acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado em fevereiro deste ano e que analisou as estatísticas do Registro Civil (Divórcios 2020).
Para especialistas, o empoderamento feminino e o questionamento da fidelidade são alguns dos fatores que contribuíram para relações mais curtas. “Um dos grandes dilemas modernos é se comprometer quando temos mais autonomia e liberdade sexual. Por que ficar em um relacionamento, que me demanda tanta energia, se posso ficar sozinha, pagar minhas contas e transar com quem quiser? As pessoas estão menos afetadas pelas regras sociais”, diz a terapeuta de casais Ana Canosa, colunista do site Universa.
Avanço do feminismo (ainda bem!)
É comum vermos histórias dos nossos avós que ficaram cerca de 50 ou 60 anos dentro de um casamento. Mas todos esses relacionamentos foram felizes mesmo? Com o julgamento da sociedade e a falta de recursos financeiros das mulheres, muitas vezes nossas ancestrais se mantinham em relacionamentos ruins por não terem escolha.
“Antes, a mulher não tinha independência financeira, tinha um compromisso muito maior com sociedade e com a família. Aguentavam muito, porque as pessoas comemoravam mais o casamento do que o amor”, diz a psicóloga Ivana Cabral, especialista em casais.
Se as mulheres se vêem em condições de se bancarem sozinhas, já que estão ganhando cada vez mais espaço no mercado de trabalho, não têm mais motivos para viverem infelizes em um casamento. “Mulheres não estão dispostas a manterem um casamento a qualquer custo, estão quebrando essa ideia de que o feminino tem que estar atrelado ao amor e à maternidade”, afirma Ana Canosa.
Não é mais o casamento que define a mulher e sua felicidade. “Quanto mais elas destroem esse estigma, a tendência é de realmente não ficarem presas a relações ruins e dissolverem rapidamente casamentos não satisfatórios”, completa Ana.
Mudança no conceito de família
Por outro lado, a sociedade tem valorizado mais suas jornadas e a liberdade individual em detrimento da família. “Da data em que eu decidi me separar até de fato a separação se passaram cinco anos. Estava insegura com a questão religiosa e também financeira — apesar de independente, nós dividimos um negócio, minha carreira e meus filhos”, diz Camila Amaral, 37, advogada, de São Paulo. Esse receio fez com que Camila ficasse mais tempo em um relacionamento no qual ela não estava feliz. “Fiquei casada para preservar a família. Até que meu filho, na época com 11 anos, disse que não aguentava mais me ver infeliz”. Foi quando decidiu focar na sua felicidade.
Semana passada, Camila finalmente engordou as estatísticas cravadas pelo IBGE: após 13 anos de casamento, assinou os papéis finais do divórcio no começo de agosto. “Foi libertador. Às vezes, eu olho para fotos minhas da época e nem me reconheço, quase como se eu tivesse completamente anulada na relação em prol da instituição família”, diz Camila, que completa: “Hoje sei que eu e meus filhos somos uma família”.
Terapia de casais pode ajudar
Por mais que o casal se ame e esteja conectado, passamos por muitas fases em nossas vidas que podem gerar atritos. “Cada vez que mudamos um ciclo de vida, precisamos fazer uma avaliação sobre o que queremos e qual o projeto de convivência”, diz Ana Canosa, colunista de Universa. Um novo emprego, entrar novamente na faculdade e a chegada de um filho, por exemplo, balançam o barco – e podem levar alguns a afundar.
Na geração do imediatismo, segundo Ivana, não há paciência para lidar e superar os problemas que todos os casamentos terão e a expectativa que se coloca no outro pode ser determinante para os fins mais rápidos do relacionamento. “Espera-se muito das parcerias e, quando a pessoa não recebe o que deseja, não há resiliência para lidar com o problema”, diz. Camila tentou, por cinco anos, mas mesmo assim decidiu seguir um caminho diferente do companheiro.
Muitos casais buscam aconselhamento terapêutico antes de decidirem colocar um ponto final definitivo na relação. “Elas buscam ajuda porque veem algum tipo de prazer ou benefício na relação. Também porque gostam um do outro e tem uma história da qual têm dificuldade de abrir mão”, afirma Ana Canosa. Esse envolvimento emocional é um dos fatores determinantes para que o fim, às vezes, seja postergado.
O importante é entender que, mesmo buscando ajuda profissional, ninguém muda a personalidade de ninguém. “Tem muita fantasia sobre isso. Preciso analisar o quanto eu consigo aceitar o outro como ele verdadeiramente é e o quanto estamos comprometidos em um relacionamento em comum”, diz Ana Canosa.
com informações do site Universa