Artigo: Medicina e encontros, como se proteger? 

Uma consulta médica é um encontro não romântico com uma pessoa que você não conhece.

Por Priscila Werton

A segurança de mulheres é um assunto muito importante por aqui, pensando nisso, resolvi falar nos próximos textos (#spoiler) sobre como as mulheres podem se proteger usando artifícios online. Encontros representam riscos não só quando são românticos. Encontrar um médico durante uma consulta também pode trazer riscos às mulheres, vamos avaliar:

Siglas importantes:

CFM:: Conselho Federal de Medicina

CRM: Conselho Regional de Medicina ou o número de cadastro nesse conselho

RQE: Registro de Qualificação de Especialista

Como conhecer o seu médico?

Se um médico te falar que é especialista em alguma área, cobrando ou não por isso, você pode fazer uma consulta simples no site do CFM, é só colocar no Google “CFM consulta médico” ou “CFM busca médico” esse acesso é aberto à toda população. Com o nome do médico e/ou o CRM é possível localizar a inscrição (cadastro no conselho), mesmo que você não saiba de onde é a inscrição principal e ver se é ou não especialista. Se não tem o registro de especialista no site do CFM = não é especialista.

Mesmo sem ser especialista, um médico pode trabalhar com qualquer área que se sinta capaz, segundo o Código de Ética Médica, mas não pode te dizer que é especialista nisso sem ser. O que confere a um médico a condição de especialista é a conclusão da residência médica nessa área e/ou a aprovação na prova de título da sociedade que a representa (existe também a prova para se tornar membro de uma sociedade, que não é, necessariamente, o mesmo que prova de título). Atualmente não há outra forma de ser especialista considerada válida no Brasil. Especializações sem a prova de título não atribuem ao médico o título de especialista, sendo assim ele não pode te cobrar por uma consulta de especialista ou te dizer que é especialista, podendo responder por imperícia caso se proponha a trabalhar em uma área na qual não tenha competência, experiência e habilidade.

Outra forma de procurar informações sobre o médico é colocando o nome dele (esse serve para qualquer pessoa, não só médicos) no www.jusbrasil.com.br e conferir os processos em que ele está envolvido. Pelo app SINESP CIDADÃO é possível ainda consultar pessoas procuradas, mandados de prisão entre outras coisas. O Instagram não é uma boa plataforma para conferir competência e/ou veracidade à palavra de um médico (de ninguém, na verdade), muitos médicos compram seguidores, possuem milhares de seguidores com postagens sem interação compatível, isso já é um indício de que ele não está muito preocupado em passar a verdade para você, já que não tem um público orgânico que o acompanha, mas faz parecer que tem. Além disso, é possível apagar, bloquear qualquer comentário ou pessoa que o denuncie e a ferramenta do Instagram é muito falha para tomar decisões sobre páginas denunciadas por discursos de ódio, fraude etc. No Instagram, as pessoas conseguem manipular informações para que pareçam ser o que elas quiserem. Não confie no Instagram para procurar médicos.

Essas medidas todas ainda não garantem a segurança de uma paciente. Então a melhor forma ainda é através de indicação de alguém que você conhece, o que mesmo assim, não garante 100% sua segurança. Infelizmente nós, mulheres pacientes, estamos vulneráveis nas mãos dos médicos e essa relação que deveria ser de confiança, pode se tornar muito perigosa, como temos visto ultimamente nas notícias nacionais.

A medicina precisa reconhecer, aceitar e trabalhar para melhorar suas falhas, principalmente o machismo estrutural impregnado no cuidado que ainda é proposto atualmente. A fragilidade física e psicológica a que uma pessoa se submete em relação a um profissional chega ao ápice na relação médico-paciente. É durante o atendimento médico que, muitas vezes, as pacientes se encontram despidas, expondo informações extremamente pessoais ou desacordadas. Quando um médico está respondendo a um processo, as informações sobre o processo correm em sigilo, mas mesmo quando ele é condenado, dependendo do Conselho Regional da localidade, essa informação pode não ficar disponível ao público geral e, assim, as pacientes podem nunca saber se um médico já passou por algum tipo de processo enquanto médico, já que o Jusbrasil só mostra processos gerais. A medicina precisa encontrar formas de proteger melhor suas pacientes. Enquanto isso, o que podemos fazer para nos proteger é pouco.

Vamos conferir a minha situação no CFM: vá ao site: https://portal.cfm.org.br/busca-medicos/ coloque meu nome Priscila Werton Alves, você verá que: tenho uma inscrição primária (principal ou primária porque é a primeira mesmo, lugar onde me formei) na Paraíba, uma secundária em São Paulo, isso significa que posso trabalhar como médica nesses dois Estados, caso queira trabalhar em outro Estado, existe uma tolerância de tempo, mas terei que fazer uma nova inscrição no CRM local ou não estarei autorizada legalmente a praticar medicina lá. Não tenho especialidade, nem nunca disse a ninguém que tinha. Falarei sobre o motivo de eu ainda não ter feito residência médica depois, é assunto para outro texto.

O CRM e o registro da especialidade (RQE) de um médico não podem ser segredo. Não está se sentindo segura com um médico homem? Troque por uma médica mulher. Prefiram médicas mulheres, pode parecer uma atitude radical, mas na prática, todas as formas de proteção são válidas e médicas mulheres estão infinitamente menos relacionadas a casos de abusos contra mulheres. Como não podemos ter garantias de segurança durante uma consulta médica, podemos usar esses artifícios para diminuir as chances de sermos abusadas.

Outras informações úteis:

https://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Publicacoes&acao=detalhes_capitulos&cod_capitulo=52 (texto sobre imperícia/imprudência/negligência)

Me acompanhem também no Insta @priscilawerton

Semana que vem tem o outro texto sobre esse assunto

Até!

 

@priscilawerton é médica, feminista e defensora do SUS

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