Atirador de 14 anos que matou aluna cadeirante pode estar ligado aos fóruns de ódio na internet

By 27 de setembro de 2022Brasil, Justiça

Mais um crime que pode estar ligado aos fóruns de internet.

Filho de policial, que morava em Brasília e tinha se mudado há pouco para Barreiras, na Bahia, o atirador que matou a aluna cadeirante de 20 anos também estudava na escola cívico-militar Eurides Sant’Anna e teria postado num perfil extremista o plano de massacre na unidade de ensino. Nele, o jovem, de apenas 14 anos, se identificava como um “ser iluminado” cuja ira seria descarregada em “um ato sanguinolento”. Em um manifesto, publicado três dias antes do crime, que a polícia acredita ter sido escrito pelo jovem, ele deixa claro seu desprezo pela vida humana:

“Eu vivi com meu pai na maior parte da minha vida, pois meus pais eram separados e não tinham nenhum sentimento mútuo. Desde pequeno sentia-me superior aos demais, alimentava nojo e ódio de grupos do meu convívio, simplesmente não aceitava estar no mesmo lugar que eles, sentia que merecia mais, ou eles mereciam menos, o que importava era estar por cima”.

O estudante, que está internado em estado grave após receber um tiro, de pessoa ainda não identificada, durante o episódio na escola, escreveu o manifesto de 29 páginas, já está sendo investigado pela Polícia Civil, com o apoio do Departamento de Polícia Técnica do estado. Fontes da Secretaria de Segurança da Bahia confirmaram extraoficialmente que o perfil localizado pertence ao atirador.

Nos tuítes do estudante, ele fala do ódio à escola, onde passou a estudar quando se mudou para Barreiras. De acordo com a Secretaria de Educação, ele era um aluno faltoso. “A cada dia que vou à escola, sinto-me subjugado, se misturar com eles é nojento, é estupidamente grotesco, sinto ânsia de vômito quando um deles me tocam (sic). Sou puro em essência, mereço mais que isso, sou sancto”. E continua: “Saí da capital do Brasil para o merdeste, e nunca pensei que aqui fosse tão repugnante. Lésbicas, gays e marginais aos montes acham que são dignos de me conhecer e de conhecer minha santidade. Os farei clamar pela minha misericórdia, sentirão a ira divina”.

– Ele se denomina sancto, ele quer virar um sancto. Sancto é quando o indivíduo realiza o massacre. Eles são glorificados dentro da comunidade de extremistas como heróis – diz a estudante de ciências políticas Michele Prado, que estuda movimentos extremistas, se referindo à comunidade True Crime Comunity, da qual o estudante fazia parte e onde ela localizou o perfil que repassou aos policiais da Bahia. – Ele usava o número 88 para se identificar, o que significa ‘heil, Hitler”, portanto se identifica com neonazistas. Além disso, é incel (a palavra vem da junção das palavras “involuntary celibates”, que são jovens celibatários que propagam misoginia e racismo em comunidades virtuais, alguns deles já envolvidos em crimes nos EUA).

Pouco antes do ataque na escola, o atirador publicou uma mensagem deixando clara sua intenção: “Irá acontecer daqui 4 horas e eu tô bem de boa. Estou tão calmo, nem parece que irei aparecer em todos os jornais”. Na sequência, ele, que pulou o muro da escola com um revólver e duas armas brancas, diz estar preparado para tudo: “já estou com tudo comigo, agora é só esperar. Tudo pode acontecer nas próximas horas”. No domingo, chegou a debochar da escola: “Escola fodida, nem tem câmeras”. Pelas postagens, o estudante parecia acreditar que seria morto. “E pensar que daqui a alguns dias estarei tendo meu rosto, olhos, pulmões e outras partes do corpo sendo devoradas por vermes”.

Autora do livro “Tempestade ideológica” e “Redpill – Radicalização e extremismo em nome de Deus, dos homens e da liberdade”, que será lançado no mês que vem, Michele Prado diz que o manifesto publicado pelo atirador reproduz o discurso de extrema direita. Para ela, remete a casos como o do australiano Brenton Tarrant, de 29 anos, que matou 50 muçulmanos num ataque em Christchurch, na Nova Zelândia, em 2019, que foi condenado à prisão perpétua, e o do atirador Patrick Wood Crusius de 21 anos, que matou 20 pessoas num shopping em El Paso, no Texas, EUA, também em 2019.

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