Até outubro de 2021, pouco, ou nada se falava sobre a necessidade de realizar uma grande obra de engorda na Orla de João Pessoa. Exceto a situação da Barreira de Cabo Branco, o tema do avanço do mar nas áreas urbanas só vinha à tona quando as grandes ressacas atingiam trechos da praia de Manaíra. Até mesmo a praia do Seixas, onde o mar avança de forma significativa em construções residenciais, o assunto não servia de pauta para a grande mídia.
Mas eis que estamos em outubro de 2021, e o prefeito Cícero Lucena, em entrevista ao programa Correio Debate, da TV Correio, afirmou que uma equipe da Prefeitura de João Pessoa iria conhecer de perto o andamento da obra em Santa Catarina, para replicá-la entre Cabo Branco, Tambaú e Manaíra. Na mesma entrevista, Cícero falou que, na sua gestão anterior, de 1997 a 2004, já tinha pensado em fazer a obra. A visita de fato só aconteceu em março de 2022.
Na última semana, a imprensa anunciou a empresa responsável pelo projeto, sem mencionar como foi feita a licitação para escolha da empresa e ocultando informações relevantes em relação à lisura do processo.
Já que o prefeito Cícero Lucena tem a obra de Balneário Camboriú um grande modelo a ser seguido, alguns pontos de conflito entre as duas empreitadas merecem ser destacados:
- As primeiras discussões sobre o alargamento da Orla de Balneário Camboriú começaram ainda nos anos 70;
- Em 1990, o primeiro projeto foi realizado;
- Em 1994, a Universidade do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, realizou os primeiros estudos e pesquisas sobre o ambiente costeiro e o alargamento da orla;
- No ano 2000, o Instituto Nacional de Pesquisas Hidráulicas apresentou uma proposta técnica sobre o alargamento e o tema ganhou espaço na mídia local. O principal ponto de discussão girava em torno da sombra que os prédios altos geravam na praia.
- Um plebiscito com a população local foi realizado em 2001. Apesar de contar com 50.780 de eleitores aptos a votar, apenas 6.511 de fato compareceram às urnas, e 70% desses votantes concordaram com as obras de alargamento;
Foi só a partir do resultado do plebiscito que as coisas, de fato, começaram a andar, mas foi apenas em 2019, depois de longos estudos e debates públicos que a primeira licitação foi publicada.
Enquanto o processo em Balneário Camboriú levou décadas para ser concretizado (e ainda cheio de falhas estruturais e danos ambientais); a Prefeitura de João Pessoa quer resolver tudo numa velocidade assustadora.
*Ajude o Paraíba Feminina a continuar fazendo jornalismo de qualidade. Pix: [email protected]