Mais estudos, menos espaços: mulheres ainda são minoria em carreira docente
Com tantos avanços quando se fala na inclusão das mulheres, a visibilidade e oportunidades no mercado de trabalho ainda é um terreno a ser explorado e com pouca evolução efetiva. Nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, a professora titular do Departamento de Ciência Animal na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) fez uma análise sobre o cenário dentro das universidades públicas.
Nas cadeiras das salas de aulas, elas são muitas, mas enquanto docentes, o quadro ainda é insosso. Cheias de formações, especializações e diplomas, muitos dos certificados ficam engavetados devido à falta de flexibilidade e empatia de um mercado que não contempla além do profissional e não cria formas de incluir quem, na maioria das vezes, precisa dar conta de casa e filhos.
Confira o artigo de Terezinha Domiciano:
A presença feminina nas universidades públicas tem sido marcada por um notável progresso nas últimas décadas, tanto em números quanto em influência. No entanto, ainda persistem desafios significativos para aquelas que buscam trilhar a carreira acadêmica.
Em meio a um País marcado por desigualdade de gênero, temos uma boa notícia: mulheres já são maioria nos programas de pós-graduação. Segundo a Capes, 54,2% dos matriculados no stricto sensu são do gênero feminino. Elas também são 58% dos beneficiários de bolsas.
Mas, infelizmente, e equilíbrio, fica apenas no campo da formação. Quando falamos da carreira docente e a ocupação de cargos de liderança acadêmica, as mudanças caminham a passos lentos. O Laboratório de Estudos sobre Educação Superior (LEES) da Unicamp mostra que, enquanto 51% dos títulos de doutorado entre 1996 e 2014 foram obtidos por mulheres, o número de mulheres docentes nas universidades cresceu apenas 1%, de 44,5% para 45,5%.
Outro problema que merece debate na busca de soluções é em relação às mulheres que se tornaram mães. Elas precisam de olhar e condições especiais, pois acabam tendo uma carga maior nesse ‘trabalho invisível’ de cuidar da casa e da família.
Com uma grande sobrecarga, não é difícil que a produtividade acadêmica possa vir a cair e aí vêm as cobranças, as críticas e até exclusão dos processos para a ocupação de cargos de liderança e gestão e até ascender na carreira. Cansamos de escutar: com homem não acontece isso! Claro que não acontece, eles não têm as mesmas responsabilidades e as jornadas de nós mulheres.
A sobrecarga de trabalho interfere diretamente sobre a produção científica das mulheres e isso ficou claro porque durante o isolamento imposto pela pandemia de Covid-19, em 2020, apenas 47% das cientistas mulheres com filhos estavam conseguindo submeter os artigos científicos que haviam planejado antes do início da pandemia, contra 76% dos cientistas homens sem filhos. Os dados são de uma pesquisa feita pelo Parent in Science.
Embora tenham ocorrido avanços significativos na participação feminina nas universidades públicas, ainda há muito a ser feito para promover a igualdade de gênero e superar os desafios persistentes. É crucial continuar lutando por políticas inclusivas, programas de apoio e mudanças culturais que garantam que todas as mulheres tenham as mesmas oportunidades de sucesso no ambiente acadêmico.
É preciso mudar a cultura para as mulheres ocuparem os topos. Para que cada vez mais se tornem pesquisadoras, diretoras de centro, presidentes de conselhos e reitoras. Quem ganha com a inserção feminina nos postos de liderança e gestão é a sociedade, que terá o olhar dedicado, capacitado e resoluto das mulheres que comandam.
Terezinha Domiciano
Professora Titular do Departamento de Ciência Animal na UFPB, com experiência em pesquisa, extensão e gestão. Possui graduação em Medicina Veterinária, Mestrado e Doutorado em Zootecnia. Ex-diretora do Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA), no campus III da UFPB, em Bananeiras, no Brejo paraibano.