Histórias de inclusão: As garotas trans que conseguiram emprego num restaurante em João Pessoa

By 30 de janeiro de 2020Fora do Armário, Lute como uma garota
foto: Luana Almeida

Um restaurante de João Pessoa, em funcionamento há três anos, vem adotando a iniciativa de empregar transexuais. Na quarta-feira (29) é celebrado o Dia Nacional da Visibilidade Trans e apesar da dificuldade para conseguir vaga no mercado de trabalho, elas são maioria no empreendimento, localizado no bairro dos Bancários.

Entre os funcionários do estabelecimento está Júlia Ariella, que trabalha há dois anos no restaurante. A jovem de 23 anos, nascida em Sousa, no Sertão da Paraíba, mora há quatro anos em João Pessoa. Júlia começou a transição na capital paraibana, quando saiu da casa dos pais.

“Desde pequena, na minha cabeça, eu já era mulher. Mas eu não podia assumir porque minha família não ia aceitar como era”, disse Júlia.

Nos dois primeiros anos na cidade, a jovem não conseguiu emprego até encontrar o restaurante. “No momento que cheguei na empresa fui muito bem acolhida. Passei por muitas situações difíceis, para toda trans o mercado de trabalho é muito difícil. Essa família me adotou, eu considero uma família. Me dedico muito a empresa”, destacou.

A iniciativa partiu de Larissa Dias, dona do restaurante Mundial Galetos. Com três unidades do restaurante, cinco dos oito funcionários da empresa são transexuais. A atitude surgiu por Larissa ser amiga de membros do meio LGBT.

“É uma honra pra mim tá contratando e ter elas junto comigo. Aqui nunca teve diferenciação… as meninas são muito responsáveis, proativas, honestas, humildes e elogiadas pelo atendimento”, disse a empresária.

No restaurante, Júlia conta que nunca sofreu transfobia por parte dos clientes. Também não há mais preconceito na família, que já a aceita.

“Para mim, foram muitas mudanças, eu olho minha foto como menino e agora como menina, é totalmente diferente. Hoje eu tô lá em cima, porque antigamente eu não vivi como tô vivendo agora, com autoestima renovada”, revelou Júlia.

A jovem que estudou até o ensino médio agora pretende ingressar na faculdade, onde quer cursar publicidade e propaganda. Conseguir um emprego mudou a vida de Júlia: “Empresários e empresárias abram mais oportunidades de emprego, somos muito responsáveis, tem que dar mais oportunidades pra gente e não generalizar com outras realidades”, afirmou.

Iniciativas públicas para o público trans na Paraíba

O Governo da Paraíba e a Prefeitura de João Pessoa também possuem iniciativas de educação e emprego para transexuais: o Espaço LGBT, do estado, e o Centro de Cidadania LGBT, do município.

O Espaço LGBT, vinculado à Secretaria da Mulher e da Diversidade Humana (Semdh), funciona desde 2011 em João Pessoa. De acordo com o coordenador Victor Polato, o local oferece equipes de serviço social, psicológico e jurídico, além de retificação de nome e gênero. As equipes também realizam uma busca ativa de pessoas LGBTQI+ em situações de rua e que estão em hospitais ou casas em situação de violência ou doenças psicológicas.

Desde 2018, há também o Espaço LGBT em Campina Grande. Dos 223 municípios do estado, o Espaço LGBT já realizou atendimentos em 165, segundo Victor. O estado da Paraíba foi o primeiro no Nordeste há criar o Ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais, que funciona anexo ao Hospital Clementino Fraga, em João Pessoa.

Os moradores de outras cidades do estado e de estados próximos também chegam até ao ambulatório através do Tratamento Fora Domicílio (TFD), um benefício dos usuários do Sistema Único de Saúde.

De acordo com o Ministério de Saúde, o serviço consiste na assistência integral à saúde, incluindo o acesso de pacientes residentes em um determinado Estado a serviços assistenciais localizados em Municípios do mesmo Estado ou de Estados diferentes, quando esgotados todos os meios de tratamento e/ou realização de exame auxiliar diagnóstico terapêutico no local de residência do paciente e desde que o local indicado possua o tratamento mais adequado à resolução de seu problema ou haja condições de cura total ou parcial.

No Espaço, os atendimentos são divididos entre geral e de urgência, como em casos de depressão ou até mesmo cárcere privado, já atendidos no local. O Espaço LGBT, atendeu no período de 2011 a 2017, 306 mulheres trans, o número de homens transexuais não foi divulgado devido a uma atualização no sistema de dados da entidade.

Pela prefeitura de João Pessoa, são atendidas 65 pessoas no programa ‘Transcidadania’, que busca inserir pessoas trans no mercado de trabalho. A iniciativa conta com 9 empresas parceiras e funciona há quatro anos.

De acordo com Roberto Maia, coordenador geral da Coordenadoria Municipal de promoção à Cidadania LGBT e Igualdade Racial, o centro também oferece moradia, com duas casas de acolhida para LGBTs que não possuem onde morar. O centro também oferece apoio psicológico, social, jurídico e o serviço de retificação de nome e gênero.

Há vagas específicas a população trans em também cursos de inglês, francês, espanhol e libras oferecidos no Celest, e através de uma parceria com a secretaria de educação, a entidade promove o retorno aos estudos de 320 trans e travestis, inscritas na Educação de Jovens e Adultos.

A coordenadoria também visita pontos de prostituição da capital paraibana, para falar sobre os serviços. O ‘Transcidadania’ só existe nas cidades de João Pessoa e São Paulo, porém a coordenadoria tem apresentado o programa em outras cidades, como Natal, no Rio Grande do Norte.

texto de Luana Almeida, para o G1/PB

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