Árbitra é agredida a socos durante partida de futsal no Piauí; atleta fugiu e está desaparecido

By 4 de junho de 2019Machismo mata

Eliete Maria Fontelene foi agredida à socos enquanto conduzia um jogo na UFDPar — Foto: Kairo Amaral/TV Clube

Jogador não aceitou punição com cartão vermelho e desferiu socos na árbitra. Estudante universitário suspeito de ser o agressor ainda não foi localizado e vítima registrou Boletim de Ocorrência na Central de Flagrantes de Parnaíba.

Uma árbitra, identificada como Eliete Maria Fontenele, foi agredida a socos durante uma partida de futsal na noite de segunda-feira (3) na cidade de Parnaíba. O evento estava acontecendo na Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) e o agressor fugiu logo após o crime.

Eliete era a segunda árbitra da partida quando os dois times se desentenderam e atletas adversários passaram a se agredir. A árbitra então puniu três jogadores com cartão vermelho. Um deles atacou a árbitra a socos.

O vídeo, feito por outro aluno que assistia a partida, registra o momento em que o suspeito desfere três socos contra o rosto da árbitra, que cai no chão. Eliete Maria teve o lábio cortado. A árbitra se dirigiu para a Central de Flagrantes onde denunciou o ocorrido e passou por exame de corpo de delito.

De acordo com a árbitra, houve um atrito entre dois jogadores dos dois times que participavam da partida. A partir da discussão, outros jogadores se envolveram, gerando uma briga generalizada em quadra. Para retomar o controle do jogo, Eliete expulsou os dois jogadores que iniciaram a confusão. Após isso, o suspeito pela agressão partiu para cima da vítima.

“Eu estava com o cartão e ele bateu na minha mão. No momento em que ele bate na minha mão, se eu não puxasse o cartão para ele, ia perder minha autoridade toda do jogo. Aí eu puxei e dei o vermelho [para ele] também. No momento em que eu dei o vermelho, ele me puxou e eu dei um passo. O primeiro [soco] desviou, mas o segundo e terceiro que foram fortes, que quando ele me deu eu caí no chão”, relatou Eliete.

Boletim de ocorrência

O suspeito fugiu do campus da UFDPar logo após a agressão. Eliete buscou a Central de Flagrantes de Parnaíba logo após o ocorrido para registrar um boletim de ocorrência. A delegada Fernanda Novaes informou ao G1 que solicitou um exame de corpo de delito, que vai determinar as próximas ações da Polícia Civil.

“Caso seja apontada apenas uma lesão leve, será lavrado um Termo Circunstanciado de Ocorrência [TCO], que não demanda pedido de prisão. Já caso haja uma lesão grave ou gravíssima decorrente dessa agressão, será aberto inquérito policial e poderá ser pedida a prisão do suspeito. Tudo vai depender do resultado do laudo”, explicou.

O rapaz apontado como autor da agressão continua desaparecido.

Boca da árbitra ficou ferida devido às agressões — Foto: Kairo Amaral/TV Clube


‘Quero respeito e segurança’

Eliete, que é árbitra há mais de 20 anos, conta ter sido a primeira vez que foi vítima de agressão dentro de quadra. Ela reforça a importância de denunciar esse tipo de crime, e pede por justiça.

“O recado que eu posso deixar é: quando for agredido árbitro ou qualquer mulher, nunca deixe de vir denunciar, porque é a melhor coisa. Você fica com a alma limpa, porque se eu não fizesse isso, eu não ia dormir. Porque eu ia ficar com medo de andar nos lugares. Eu tenho minha vida também, que eu vivo, e aí eu não posso afetar isso. Mas quero também respeito para mim e segurança. Eu quero justiça”, disse.

A UFDPar lançou uma nota de repúdio e disse que um processo de sindicância será instaurado para que as providências sejam tomadas. Leia a íntegra da nota no final da matéria.

Repercussão

O caso teve ampla repercussão nas redes sociais. O vídeo foi compartilhado por famosos e a palavra “UFPI” foi parar nos assuntos mais comentados do Twitter. Anteriormente, a UFDPar fazia parte da Universidade Federal do Piauí e foi criada em 2018, surgindo a partir de um campus da instituição na cidade de Parnaíba.

Uma campanha pedindo a expulsão do estudante suspeito de ser o agressor foi iniciada por alunos do Campus e compartilhada por famosos, incluindo a apresentadora Maísa. Um ato foi marcado no auditório da Instituição, para reiterar o pedido de expulsão.

Leia abaixo a íntegra da nota da UFPar:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO DELTA DO PARNAÍBA
CAMPUS MINISTRO REIS VELLOSO
NOTA DE REPÚDIO

A Direção do Campus Ministro Reis Velloso vem, por meio desta nota, tornar público o REPUDIO de toda e qualquer ameaça ou agressão ocorrida nas dependências do Campus.

Recentemente tivemos dois episódios lamentáveis, um de agressão durante atividades esportivas concordadas aos alunos e um outro episódio de ameaça à família de um professor do campus. Em ambos os casos serão aplicadas as normas regimentais assim como o Campus contribuirá com os órgãos de segurança e os procedimentos legais adotados em cada caso. Os processos de sindicância oficiais serão iniciados imediatamente para que sejam tomadas as providências legais. 

Será nomeada uma comissão para apuração administrativa, cooperando com os demais órgãos, também acionados, para elucidação do caso, seguindo os ritos da lei e os regramentos institucionais.

Sobre o ocorrido durante um evento esportivo entre estudantes nesta segunda-feira, esta Direção vem a público informar que, a partir de então, estão proibidas todas as atividades na quadra esportiva do Campus até a apuração do referido caso.

Desta forma, a Direção reitera seu compromisso com a integridade e o respeito entre os agentes da comunidade acadêmica e comunidade externa, norteando-se sempre pelos aspectos normativos desta Instituição de Ensino Superior, ao tempo que se solidariza com as vítimas e enseja o movimento contra todo tipo de violência.

Manteremos a comunidade informada dos desdobramentos legais, dando toda transparência a investigação para os dois casos citados.

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