A horrível história das jovens que retiram o próprio útero para conseguir emprego

By 6 de julho de 2019Machismo mata


Parece história de ficção. Mas é uma história real. Milhares de jovens mulheres em Maharashtra, Estado ocidental da Índia, estão fazendo cirurgias para retirar os úteros. A maioria delas adotou essa solução radical para conseguirem empregos em plantações de cana de açúcar ou porque foram induzidas por médicos inescrupulosos.

Todo ano, dezenas de milhares de famílias carentes migram para uma região conhecida como “cinturão do açúcar” para trabalhar por seis meses na colheita da cana.

Muitas famílias acabam nas mãos de empregadores gananciosos que as exploram.

Eles resistem a contratar mulheres porque o trabalho nas plantações é pesado e, segundo eles, mulheres podem perder um ou dois dias de trabalho por causa da menstruação. Quem falta ao trabalho precisa pagar multa.

As condições de vida no local de trabalho estão longe do ideal e são particularmente complicadas para as mulheres durante a menstruação.

As famílias têm que viver em cabanas ou barracas perto das plantações, onde não há banheiros. Como a colheita às vezes é feita mesmo à noite, não há horas fixas nem para trabalhar nem para dormir.

Por causa das más condições de higiene, muitas mulheres contraem infecções. Segundo ativistas que trabalham na região, médicos inescrupulosos as incentivam a passar por cirurgias desnecessárias, mesmo quando apresentam um pequeno problema ginecológico que poderia ser tratado com remédios.

Como a maioria das mulheres nessas áreas é casada e jovem, muitas têm de duas a três crianças antes mesmo de completar 30 anos. Como os médicos não falam abertamente sobre problemas e dificuldades da histerectomia, muitas mulheres acreditam não haver problema em se livrar de seus úteros.

Isso transformou várias aldeias da região em “aldeias de mulheres sem ventre”, segundo a imprensa indiana.

Depois que o problema foi levantado, no mês passado, pelo deputado estadual indiano Neelam Gorhe, o secretário de saúde de Maharashtra, Eknath Shinde, admitiu que 4.605 histerectomia foram realizadas em apenas um distrito – Beed – nos últimos três anos.

Mas, segundo ele, nem todos os procedimentos foram feitos por mulheres que trabalham na colheita da cana.

Shinde disse que uma comissão foi criada para investigar vários casos.

Prajakta Dhulap, que trabalha em um dos serviços da BBC na Índia, visitou um vilarejo de Beed e diz que de outubro de 2018 a março de 2019, 80% dos moradores do local migraram para trabalhar em plantações de cana. Metade das mulheres da vila fez cirurgia para tirar o útero e a maioria tem menos de 40 anos – algumas ainda estão na casa dos 20 anos.

Muitas das mulheres com quem Dhulap conversou disseram que a saúde deteriorou desde que foram submetidas à operação.

Da BBC Brasil

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