Por que as palavras ‘mulher’ e ‘poder’ causam estranhamento quando juntas?

By 14 de setembro de 2019Lute como uma garota

O estigma em torno do universo feminino é tão latente que até o título que escolhi para o artigo de hoje pode gerar um estranhamento em alguns leitores. O poder da mulher? Mas por que as palavras mulher e poder juntas?!

Em uma busca simples no dicionário vemos que a palavra poder significa “possuir força física ou moral; ter influência, valimento.” E foi exatamente isso que eu vivi no dia 10 de setembro.

Não era Dia Internacional da Mulher, portanto podemos dizer que a priori não era uma data esperada para receber o convite de uma grande jornalista para um encontro com Mulheres de Talento. Fiquei surpresa, em geral questões e ações que envolvem o contexto das mulheres no Brasil são realizadas exclusivamente em março.

Para mim essa foi a primeira genialidade desse encontro. Vejamos, qualquer momento, qualquer dia, são oportunos e relevantes para falar sobre mulheres. Na verdade, o ideal é que isso aconteça durante os 365 dias do ano, mas sabemos que não é bem assim que acontece.

Ao chegar no local me deparei com um cenário incrível e inusitado. Cerca de 40 mulheres, considerando profissionais do setor público, de grandes empresas, de organizações sociais, líderes dos mais variados movimentos que estão ocorrendo no país. Poucas já se conheciam previamente, ainda assim – ao contrário do que o senso comum por aí me diz, de que mulheres não se dão bem entre si, ou que mulheres não sabem ser sociáveis entre si – o que vi foram algumas das mulheres mais poderosas, influentes e talentosas do Brasil, sendo receptivas, acolhedoras e totalmente interessadas pela troca de experiências.

Ao longo daquelas duas horas e meia falamos sobre família, espiritualidade, os contextos empresarial e político atuais e os dados sobre as mulheres no Brasil.

Lembrei de quando comecei a minha carreira, uma oportunidade incrível que me foi oportunizada por uma mulher, VP em uma multinacional de eletrônicos, que já tinha em 2005 a visão de que cada mulher que “chega lá”, que está em um cargo de poder e tomada de decisão tem como um dos seus legados abrir caminhos para novas mulheres, novos talentos.

Para se ter uma ideia do quão maravilhosa foi essa troca, só ao meu redor havia uma jornalista, uma advogada criminalista, uma secretaria do poder público, uma especialista em tecnologia, uma empresária londrina que está no Brasil há sete  anos, uma executiva de grande empresa nacional e uma presidente de organização social –  aliás faço aqui o destaque para a Amigos do Bem, cujo trabalho já conhecia mas saber em profundidade trabalho realizado no sertão nordestino me encantou ainda mais neste dia.

Em meio a mulheres tão brilhantes, fizemos o contraponto, relembramos que as mulheres são 52% da população, no entanto, 35% do quadro funcional nas 500 maiores empresas brasileiras e 13% em postos de liderança. Comentamos também o cenário de violência, já que a cada 5 minutos uma mulher é agredida no Brasil.

Segundo os dados do Anuário 2019 Raio-X do Feminicídio “cerca de 1.200 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2018. Desse total, 61% são negras, 6 em cada 10 mulheres são assassinadas em casa e 58% tem entre 20 e 39 anos”. Por isso, a importância do agrupamento e articulação das mulheres falando sobre esses temas, trazendo luz a esses dados tão impactantes para que não sejam invisibilizadas, é fundamental.

Em algum momento perguntei para a jornalista que liderava o encontro o que a fazia investir o seu tempo e capital nesta iniciativa. “encontros como esses, com mulheres talentosas, trabalhadoras e inteligentes, precisam se multiplicar cada vez mais” ela respondeu. E acrescentou “fico muito feliz cada vez que faço um movimento nesse sentido, reconhecer o trabalho dessa turma toda que tem uma jornada tripla de trabalho. Isso aqui é só o começo”.

Certamente este foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Parar em um dia qualquer do mês de setembro e conhecer mulheres que estão mudando o mundo, algumas conhecidas do grande público, outras não. Essas mulheres que fazem parte dos mais diferentes pontos da sociedade e que todos os dias tentam, silenciosamente, transformar nossa sociedade para nossas filhas e netas. E porque não acrescentar também mudar a sociedade para nossos filhos e netos, uma vez que precisamos de um novo tecido social para as mulheres, mas certamente também para os homens. Para que tenhamos enfim uma sociedade melhor para todos.

E você já parou para pensar em como pode contribuir para melhorar a sociedade para as próximas gerações de mulheres que vão chegar? Que tal começar contratando mais mulheres para sua equipe. Que tal promovendo-as? E reconhecendo os potenciais dessas profissionais hoje!

*Liliane Rocha CEO e Fundadora da Gestão Kairós, consultoria especializada em Sustentabilidade e Diversidade, autora do livro Como ser um líder Inclusivo e premiada com o 101 Top Global Diversity and Inclusion Leaders.

Da Revista Época

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