Frida Kahlo é pop, vende produtos, mas esquecem que ela tinha deficiência

By 4 de novembro de 2019Lute como uma garota

Frida até andava de bicicleta, mas isso foi antes do acidente.

A artista plástica Frida Kahlo, todo mundo sabe, é um dos grandes ícones do feminismo contemporâneo. Mais que uma artista, nos últimos dez anos, no mínimo, Frida virou pop. A artista mexicana virou produto. A “Fridamania” vende de um tudo no mundo todo. Existem esmaltes, bonecas de papel, Barbie, canecas , fantasias, tudo o que você pode imaginar com a imagem de Frida, marcada por seus coques e suas sobrancelhas grossas. E, claro, Frida estampa camisetas e ecobags mundo afora.

Ela virou uma espécie de Che Guevara “feminino”, no sentido comercial do termo.

Existe uma grande discussão de como artistas ou revolucionários viram produtos vendáveis. No caso de Frida, sua família é contra a apropriação da sua imagem. Mas parece já ser tarde. E o ponto aqui é: vocês lembram que a Frida também tinha deficiência física e que isso marcou profundamente o seu trabalho? Porque parece que tem gente esquecendo.

Então, vamos lembrar. Frida, para quem não sabe, teve poliomielite na infância. Adolescente, aos 18 anos, ela sofreu um acidente de ônibus. Passou o resto da vida lutando contra a dor, contra a deficiência e fez mais de 30 cirurgias.

Muitos dos seus auto-retratos mostram isso, ela muitas vezes se pintou sentada, ou com as cintas para a coluna que era obrigada a usar. Pintava também seus sapatos especiais (ela mancou e sofreu dores a vida inteira.)

Frida virou pop. Normal. Só que algumas marcas começaram a “esquecer” a deficiência.

A youtuber e ativista contra o capacitismo (preconceito contra PCDs) Mariana Penteado, é a dona do “Vai uma mãozinha aí”, o maior canal para pessoas com deficiência do Brasil, com mais de 150 mil assinantes. Para ela, a imagem de Frida com deficiência tem sido “apagada.” Uma Frida sem deficiência, sem sofrimento, seria mais palatável e mais vendável?

Em muitas imagens da artista, divulgadas mundo, a deficiência de Frida é esquecida. Em uma delas, exibida em camisetas, pôsteres e bolsas, Frida exibe pernocas sem cicatrizes, cinturinha de pilão, parece praticamente uma modelo totalmente dentro do padrão.

No Brasil, uma camiseta da grife Bendita Augusta causou polêmica. Nela, Frida está, de shortinho, encostada em uma bicicleta. Bem, ela não tem nenhuma cicatriz ali. E, Frida não andava de bike, mas, muitas vezes, de cadeira de rodas.

A grife, depois do alerta de Mariana, afirma de tirado a camiseta de circulação e colocado no lugar uma camiseta de Frida com cadeiras de rodas. Legal. Segundo eles, a marca cometeu um erro, ao não atentar para a “diversidade”.

E claro, não fica tudo nessa camiseta. Frida posa sexy em um quebra cabeças, tem Frida lânguida e todas as “fofurices” que você pode imaginar.

Representatividade importa

“Eu demorei para saber que ela tinha deficiência”, diz Mariana. “Só quando fui a uma exposição dela, porque já gostava do seu trabalho, é que descobri isso. Aí comecei a pesquisar. Aos poucos, percebi que existia um apagamento. Queria ter um pôster dela em cadeiras de roda e não conseguia encontrar de jeito nenhum.”

“Existe esse apagamento de pessoas famosas e da deficiência em geral. Por muito tempo, me escondi nas fotos, escondi que tinha uma deficiência, porque me olhavam diferente, ou com pena, ou como se eu fosse uma guerreira superforte. Não te vêem como você é.”

E representatividade, ela afirma, é, sim, importante. “Você não vê pessoas como você. No caso da Frida, acho isso uma coisa de outro mundo, ainda mais porque ela virou símbolo do feminismo”, diz. Segundo ela, a questão da Frida é só “mais um exemplo de como as pessoas não esperam que as pessoas com deficiência sejam bem sucedidas.”

Pense nisso tudo quando for comprar seu próximo produto da Frida. Sim, ela era maravilhosa! E, uma das razões, foi ter convivido com tanta dor. Não vamos mudar a história dos nossos ídolos!

Nina Lemos, para o Universa

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