Antes da pandemia, Talitta Medeiros acordava cedo, ajeitava o filho de 5 anos e deixava a criança na casa dos pais. Ia pra faculdade, e de lá direto para o trabalho. Saía às 17h, pegava o filho na escola, fazia o jantar, limpava a cozinha, fazia as tarefas da escola, e depois que o filho dormia, ela se dedicava às suas próprias atividades da faculdade de Publicidade e Propaganda. Apesar da rotina já desgastante, a situação piorou.
“Agora acordo ainda mais cedo para poder acompanhar minhas aulas on line. Antes que elas acabem, meu filho acorda e minha atenção tem que ser pra ele. Faço o café, tenho que brincar com ele. De repente tenho que fazer o almoço. E aí começam as aulas dele. E manter a atenção de uma criança de 5 anos na frente do computador não é uma tarefa fácil. Fiquei trabalhando de home office, mas não consigo dar conta porque são quatro horas seguidas em que eu tenho que me dedicar exclusivamente às aulas do meu filho. Terminada essa aula, tenho que fazer lanche, limpar e higienizar a casa. Logo depois tenho que fazer o jantar, limpar tudo novamente. No meio disso, tenho que arrumar um jeito de livrar meu filho do tédio, trancado num apartamento pequeno, sem poder sair pra brincar. Ele precisa gastar energia, eu não tenho mais energia. Depois que ele dorme, preciso colocar o trabalho em dia, fazer meus trabalhos da faculdade, eventualmente estender ou dobrar roupas… Não tenho mais horário pra dormir. Meu rendimento no trabalho caiu, meu rendimento na faculdade caiu. Me sinto extremamente cansada e não estou conseguindo dar conta”.
O depoimento de Talitta é uma realidade para milhões de mulheres pelo mundo todo. Segundo uma pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres estão trabalhando até quatro vezes mais durante essa pandemia.
A pesquisa ONU Mulheres, divulgada em abril, revelou que elas se queixam do aumento na jornada de trabalho, que chegou a quadruplicar, durante a pandemia. O estudo faz parte do relatório Mulheres no Centro da Luta Contra a Covid-19, e mostra que as mulheres vêm sofrendo com o aumento da violência doméstica, o trabalho em casa (home office) e os cuidados domésticos.
O coronavírus não trouxe o problema da jornada de trabalho desigual que as mulheres enfrentam, mas ele potencializou um problema que já era corriqueiro e vivenciado. A saúde física, financeira e mental dessas mulheres é uma das consequências deixadas pela pandemia.
Taty Valéria