Desde o final do mês de julho, Campina Grande e João Pessoa reabriram o comércio e quem anda pelas ruas até esquece que ainda estamos no meio de uma pandemia. Se a vida segue “normal” no que diz respeito à cadeia produtiva econômica, surge um ponto que pouco está sendo discutido: A pressão dos setores econômicos fez que com que estados e municípios recuassem na flexibilização, mas nenhum governante ou empresário apresentou qualquer proposta que garantissem a segurança de milhares de famílias que estão se desdobrando para achar alternativas que contemplem a volta ao trabalho e os cuidados com crianças pequenas.
A discussão sobre a reabertura de escolas e creches é extremamente sensível. Na rede particular, os pais receberam responderam enquetes sobre isso. Se havia alguma articulação sobre dos donos de escolas particulares para retomar o ensino presencial, foi “enterrada” pelos próprios pais. Mães e pais não se sentem seguros. Os estados e países que resolveram permitir essa reabertura, sentiram o peso do aumento de casos entre professores, funcionários e alunos.
Na rede pública, tanto a prefeitura de João Pessoa, quanto na de Campina Grande, o processo de retomada ainda está em avaliação.
Eliane* é diarista e seus dois filhos, de 2 e 4 anos, passavam o dia na Creche Municipal Severino Cabral, no bairro das Malvinas em Campina Grande. Eliane é mãe solo e seus parentes moram no município de Monteiro. Ela conseguiu o auxílio emergencial, mas afirma que não é suficiente para pagar o aluguel, as contas da casa e manter a geladeira.
“Antes eu deixava os meninos na creche e conseguia fazer até duas faxinas por dia. Agora eu deixo com uma ajuda da vizinha, mas não é todo dia que ela pode, e também tenho medo porque a mãe dela é idosa”, conta Eliane, que diminuiu o número de faxinas para três por semana, quando tem sorte. “Tem gente me deixa levar um dos meninos, mas acaba atrapalhando o serviço e eu demoro mais pra terminar”. Questionada sobre a reaberta das creches, ela fica reticente.
“Eu não sei se levaria, ainda não sei responder”. Eliane sofre o duelo cruel de quem depende do trabalho presencial para sobreviver e teme pela saúde de sua família. Ela chegou a cogitar a possibilidade de levar seus filhos para morar com os parentes enquanto durar a pandemia. “Meus filhos são muito apegados à mim, eles iam sofrer muito”, diz Eliane.
Não há resposta para as Elianes.
*o nome da entrevistada foi alterado à pedido