A pergunta é permanente: o que fazer para erradicar a violência contra mulheres no Brasil? A resposta é óbvia, mudar a cultura de opressão e machismo. Mas como fazer isso? Aí são outros quinhentos. Não se muda uma cultura em uma, duas ou três gerações. É preciso um conjunto de ações que envolvam políticas públicas de educação desde a primeira infância, mudança de comportamento no contexto familiar, garantias de equidade nos salários, conscientização em relação à importância do trabalho doméstico… E enquanto isso não acontece?
Cabe ao Poder Público elaborar ações, leis e iniciativas que garantam proteção e acolhimento para as vítimas e promovam a punição dos agressores. O uso da tornozeleira eletrônica para agressores, apesar de não impedir totalmente que o crime ocorra, cria um obstáculo ao agressor.
Na tarde dessa terça (23), foi preso no Rio Grande do Sul um homem por tentativa de feminicídio da ex-namorada e agressão a outras quatro mulheres, durante uma festa clandestina. Como se não bastasse, o acusado responde a outros nove delitos, todos de agressão contra outras quatro ex-namoradas.
O delegado Diogo Ferreira, titular da Delegacia de Repressão de Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo, diz que o homem foi preso no município. Ele estava tentando se esconder da polícia, mas foi localizado após os agentes receberem pistas sobre o paradeiro. Ferreira destaca que o homem de 36 anos deu vários socos no rosto da ex-namorada de 31 anos durante a festa.
“A cena que vi foi horrível, o rosto dela ficou desfigurado devido à quantidade de socos, tanto é que o maxilar dela foi quebrado por ele. Fora outras agressões. O homem não aceitava o fim do relacionamento”, ressalta Ferreira.
Outras quatro mulheres que estavam no evento clandestino tentaram evitar o fato, mas também foram agredidas pelo suspeito. Alguns homens também tentaram conter o investigado e foram recebidos a socos e pontapés. O criminoso fugiu do local e foi localizado depois de várias informações obtidas pela polícia sobre a localização dele.
Façam as contas: uma tentativa de feminicídio + 4 agressões + 9 delitos notificados. Um verdadeiro cidadão de bem. Assim como outros casos que já noticiamos aqui, é provável que esse agressor esteja livre novamente. E se ele usasse uma tornozeleira eletrônica desde o primeiro crime? É possível que o uso do aparelho inibisse novas agressões. Mão é o ideal, mas é o que está disponível.
Homens não chegam nas nossas vidas com certificado de garantia. O uso da tornozeleira não impede que um crime aconteça, mas o componente do “castigo” pode servir como um bom certificado de antecedentes.
E o que Bolsonaro tem a ver com tudo isso? Digamos que um presidente que se apoia numa masculinidade tóxica e violenta; que diminuiu os recursos para ações de combate à violência contra as mulheres; que faz apologia às armas e afrouxa a liberação do seu uso, tenha tudo e um pouco mais a ver com isso.
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