O câncer de pulmão foi durante anos o mais diagnosticado de todos, mas as estatísticas mostram que outro tipo de tumor acaba de superá-lo em número de casos: o câncer de mama. Com uma estimativa de 2,3 milhões de diagnósticos em 2020 (11,7% do total), segundo um relatório recente da OMS, acaba de se tornar o câncer mais comum do mundo.
Como a maioria destes fatores de risco ocorre historicamente em países desenvolvidos, a incidência neles também é maior. Entretanto, o recente relatório da OMS aponta a que a incidência “está crescendo rapidamente na América do Sul, África e Ásia, assim como no Japão e Coreia do Sul”, regiões onde tradicionalmente era mais baixa. Mudanças sociais como a incorporação destas mulheres ao mercado de trabalho, o que as obriga a adiar a gravidez, ou no estilo de vida, como uma redução da atividade física, fazem, segundo os autores, que as mulheres destes países tenham um perfil cada vez mais parecido com as populações dos países desenvolvidos, razão pela qual as cifras de mortalidade por câncer de mama também tendem a se igualar.
A boa notícia é que as cifras de mortalidade são cada vez mais baixas: a taxa de sobrevivência total nesse país europeu é de 85,5% após cinco anos do diagnóstico desse tumor, segundo a AECC (Associação Espanhola Contra o Câncer). Estes dados tão positivos se devem em boa medida ao imenso esforço da comunidade científica para compreender e tratar melhor a doença: segundo dados da AECC, o de mama é, de longe, o tipo de câncer que mais ensaios clínicos gera.
Alternativas à mamografia
De todos os desafios relativos ao câncer de mama, os médicos consultados consideram que melhorar a detecção precoce é o mais urgente: “Deveríamos poder diagnosticar os tumores antes, porque sabemos que a chance de cura das pacientes é quando a doença se diagnostica localizada”, observa Saura.
Por enquanto, a principal forma de detecção precoce do câncer até o momento continua sendo a mamografia, que, segundo Rodríguez-Lescure, “demonstrou reduzir a mortalidade em até 40% nas mulheres de 50 a 69 anos”. Entretanto, nos últimos anos a eficácia desse exame de diagnóstico tem sido questionada, e todos os especialistas concordam que a redução de mortalidade graças a ele é, em todo caso, insuficiente.
Por isso, a ciência também investe tempo e dinheiro em procurar um teste eficaz de screening (monitoramento), não só para a população em geral, mas sobretudo para pacientes que já passaram pela doença. “Estamos fazendo o mesmo que fazíamos há 20 anos: que a paciente, depois da cirurgia, faz uma mamografia a cada três ou seis meses, e se aparecer essa recaída a tratamos”, afirma Miguel Ángel Quintela, chefe da Unidade de Pesquisa Clínica de Câncer de Mama do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas (CNIO) da Espanha. “Entretanto, quando os médicos a detectam, já estamos agindo tarde: o tumor já cresceu muito e se disseminou”, lamenta o especialista.
Para chegar antes, a grande promessa é a biópsia líquida, um exame de sangue que busca detectar genes mutantes do câncer antes que este seja visível por outros meios. “Já há dados que demonstram que as pacientes nas quais começa a se detectar esse DNA alterado estão a ponto de recair”, diz Quintela.
O problema da biópsia líquida é que ainda não tem suficiente sensibilidade, o que faz muitas pacientes continuarem tendo recaídas sem que seja detectada evidência alguma de DNA tumoral no exame. Mesmo assim, os médicos estão otimistas quando ao desenvolvimento dessa técnica e preveem que pouco a pouco sua sensibilidade aumentará. “Isto permitirá detectar este DNA tumoral na grande maioria das pacientes”, conclui o especialista.
do El País