Conheça NINA, plataforma que coleta informações sobre assédio em transportes coletivos

Implementada na cidade de Fortaleza (CE), os dados coletados influenciaram na criação e aperfeiçoamento de políticas públicas de segurança e proteção 

Uma pesquisa dos institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber, aponta que 97% das mulheres brasileiras com mais de 18 anos já sofreram algum tipo de assédio dentro dos transportes públicos e 46% afirmam que não se sentem seguras por médio de assédio.

Mesmo com números tão altos, é raro que uma denúncia de assédio em transportes públicos seja levada adiante.

Foi desse contexto de inquietações em relação à violência de gênero na mobilidade urbana que Simony César, filha de uma cobradora de ônibus e moradora de uma região periférica de Recife, criou o NINA, empresa que desenvolve soluções de segurança, com base em dados, para a mobilidade e planejamento urbano. O projeto ganhou o primeiro lugar no Desafio InoveMob de 2019, um dos editais mais importantes do setor de transporte e que tornou possível que a NINA rodasse o seu projeto piloto e se tornasse política pública.

O NINA foi implementada na cidade de Fortaleza (CE) e os dados coletados influenciaram na criação e aperfeiçoamento de políticas públicas, como a implementação da Parada Segura; mais acessibilidade; câmeras integradas com monitoramento 24h por dia e 7 dias por semana; instalação de luzes de led e rede Wi-fi; projeto de lei para flexibilização da parada noturna; iluminação pública; entre outros.

“Quando atuamos com a primeira versão na cidade, cobrimos uma área com 1 milhão de usuários transportados por dia e uma frota de 2 mil ônibus. Foram registradas 2.234 denúncias em um período de 18 meses e 10% delas se tornaram inquéritos policiais. Um dado considerado alto porque antes não existia nenhum canal que coletasse esses números. A violência acontecia, mas oficialmente ela não existia nos dados do governo” afirma Simony, fundadora e CEO da empresa.

Simony César, criadora do NINA

Apesar dos dados parecerem alarmantes, é preciso esclarecer que eles são os primeiros números coletados. “É uma ação inovadora de coleta desses tipos de dados no país. Antes, não existia nenhum canal padrão de denúncia e a qualificação desse tipo de crime só ocorreu em 2018. Com a inexistência de uma lei específica e de um protocolo, não havia incentivo para as vítimas denunciarem. Com a NINA rodando na cidade, o que acontece é o contrário: um aumento nos reportes de casos de assédio”.

Symone ainda reafirma que esse cenário não mostra um indicador positivo nem negativo, porque é a primeira vez que as cidades estão tendo acesso a um raio-x do panorama desse tipo de violência. “Toda vez que somos lançados numa cidade, há sempre um aumento e nunca uma diminuição de casos, porque estamos partindo do ponto zero, então são poucas denúncias registradas até então. Esse cenário não mostra um indicador positivo nem negativo”.

Contudo, o grande objetivo do projeto não é o aumento de denúncias, mas as ações tomadas pelo poder público com base nos dados coletados, como políticas de recuperação de pontos de parada, critérios de revitalização, iluminação pública, cruzamento dos dados das denúncias com os dados de horários e locais onde há maior número de denúncia, entre outros.

“Nosso objetivo principal é que não haja mais casos de assédio, e para que eles não existam, é preciso construir cidades seguras para todos. Isso só é possível se houver priorização das pessoas que estão na base da pirâmide social: as mulheres negras e periféricas na sua maioria.”

 A segunda versão da plataforma será lançada ainda este ano em Fortaleza (CE) e há propostas para implantação em outros estados já em fase de negociação. “Nossa meta é atingir uma área de cobertura de 20 milhões de pessoas até o final do ano, continuando a implementar a NINA no Nordeste, mas também em cidades ou estados do Sudeste do país.”

 

Taty Valéria

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