Abaixo assinado propõe alterar significado da palavra ‘madrasta’ no Google

Mariana Camardelli. Reprodução do instagram

Má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis; aquilo que provêm de vexames e dissabores em vez de proteção e carinho. Quem lê essas palavras imagina que se trata da descrição do vilão de uma história em quadrinhos ou de algum sociopata perigoso. Só que não.

Essa é a descrição do termo “madrasta” no Google. Por si só, o substantivo já traz uma carga bem negativa, incentivado em grande parte pelos desenhos da Disney e pela cultura pop.

Mariana Camardelli, autora do livro “Madrasta também educa?”, criadora do perfil @somos.madrastas no Instagram, e do podcast com mesmo nome, encabeça a luta para que a Oxford Languages (parceira do Google Brasil para dicionários) e a Melhoramentos (editora do dicionário Michaelis) mudem as definições de madrastas em seus dicionários.

“Um em cada três casamentos termina em divórcio. Desses casais separados, muitos têm filhos. Quando casam novamente, padrastos e madrastas assumem papeis nas famílias. Mas por que ainda temos tanto preconceito com madrastas? Começar com má não pode ser um bom motivo, senão, madrinha também deveria ser algo associado a maldade. Chega desse estereótipo”, afirma Mariana na descrição do abaixo-assinado, que até o fechamento dessa matéria, contava com 5.477 assinaturas.

Ao digitar a palavra ‘madrasta’ no Google, aparecem três descrições principais:

madrasta

substantivo feminino
1.
mulher em relação aos filhos anteriores da pessoa com quem passa a constituir sociedade conjugal.
2.
PEJORATIVO•FIGURADO (SENTIDO)
diz-se de mulher má, incapaz de sentimentos afetuosos e amigáveis.
3.
POR EXTENSÃO
aquilo de que provêm vexames e dissabores em vez de proteção e carinho.

Ao digitar ‘padrasto’, apenas uma única descrição:

padrasto

substantivo masculino
1. homem em relação aos filhos anteriores da mulher com quem passa a constituir sociedade conjugal.

No dicionário Michaelis, não é diferente:
MADRASTA:
1 Mulher casada em relação aos filhos que seu marido teve de casamentos anteriores.
2 FIG Mulher má, incapaz de revelar gestos de ternura.
adj
FIG Diz-se de algo que não oferece benefícios, apenas dissabores e tristezas: Vida madrasta.
PADRASTO:
Homem em relação aos filhos que teve sua mulher em matrimônio ou relacionamento anterior

Para Mariana, o dicionário só confirma o preconceito. “Quando eu fui estudar mais a fundo sobre o tema, me deparei com essas definições e fiquei chocada, especialmente pela desigualdade gênero: o padrasto é só o cara que casou com alguém que tinha filho”.

O propósito do abaixo-assinado é tentar construir uma mudança de mentalidade sobre a percepção social com a figura da madrasta. “Vamos começar a tirar, limpar essas mensagens de preconceito, começando pelo lugar que confirma as nossas vivências como sociedade”.

A mídia é machista e misógina

Notícias sobre madrastas que cometem crimes contra os enteados – quem esquece da Isabela Nardoni, ou de Cíntia Mariano Dias, que recentemente envenenou os enteados no Rio de Janeiro? – também reforçam o imaginário da mulher má. Mas na verdade, essas mulheres são uma exceção à regra. De acordo com dados do Disque 100, 78% dos crimes de abuso sexual infantil são cometidos por homens próximos das vítimas e o pai ou padrasto é o responsável por 40% das denúncias (as pesquisas não fazem a distinção dos autores). Por que a madrasta a grande ‘vilã’?

“Quando a mídia fala que uma madrasta tentou envenenar o seu enteado, é como se ela tivesse feito isso porque ela é madrasta, mas ela fez porque ela é uma assassina.” No caso de crimes cometidos por homens, as manchetes mudam a nomenclatura. “Quem matou Henry Borel não foi um padrasto, foi o Jairinho. A mídia é machista e misógina”.

Mariana reforça a importância da mudança de percepção social em relação às madrastas e ao fato de que cuidar das nossas crianças é um papel social.

“Se os adultos forem responsáveis e fizerem a sua parte, as crianças não vão sofrer abuso sexual, não vão ser envenenadas, não vão viver em litígio, não vão ver pai/mãe falando mal um do outro”.
“Antigamente, os casais precisavam ficar casados até que a morte os separasse, hoje temos uma opção: o divórcio pode uma saída e não um fracasso e é provável que uma nova pessoa apareça e surja a oportunidade de reconstruir a vida. E que bom! São mais pessoas para somar na vida dessa criança”.

Para mais informações sobre a campanha ‘Madrasta não é palavrão’ acesse aqui.

 

Taty Valéria

Leave a Reply

%d blogueiros gostam disto: