Quantos privilégios um homem branco, de “boa aparência” e filho da classe média consegue carregar sozinho nas costas?
Em 12 de março desse ano, Johannes Dudeck foi preso acusado de assassinar Mariana Thomas, estudante do 6º período de medicina. Bastante conhecido em João Pessoa pela minha bolha, e obviamente, isso me inclui, causou surpresa e desconforto quando, além do crime, descobrimos que o jovem alecrim respondia a mais de 20 processos, entre eles, três por agressão de mulheres.
Com o desenrolar das investigações, descobriu-se que Johannes Dudeck havia estuprado Mariana antes de assassiná-la.
Já preso, o “jovem” (sim, porque nós da imprensa costumamos chamar de “jovem” quando é um branco que comete um crime) passou por audiência de custódia, onde afirmou ter ensino superior completo, e portanto, foi transferido para uma cela especial.
Nesta terça-feira (19), pouco mais de 4 meses depois, o juiz Carlos Neves da Franca Neto determinou a transferência de Johannes Dudeck para o Presídio do Róger. Ainda conforme relatou o magistrado, o Ministério Público da Paraíba solicitou a transferência de Johannes, uma vez que a defesa não apresentou seu diploma de curso superior.
Agora vamos falar de privilégios:
Depois da prisão de Johannes e da sua imagem ser espalhada em todas as redes sociais, relatos começaram a aparecer. “Ele foi expulso de uma escola particular porque agrediu uma aluna”; “Ele namorou uma conhecida minha, e batia nela, mas ela nunca prestou queixa”; “Ele bateu numa amiga minha, mas o processo não deu em nada”. Nenhuma dessas afirmações foi investigada por mim, mas o fato dele responder mais de 20 processos na justiça comum e nunca ter sofrido qualquer tipo de retaliação pode apontar um problema bem maior.
Vejam que ele, durante uma audiência de custódia, apenas afirmou ter diploma. A palavra dele bastou. Demorou mais de 4 meses para que a Justiça se desse conta que não, não havia um diploma. Esperaram 4 meses por um diploma que não existe.
Em fevereiro desse ano, Yago Corrêa de Souza, rapaz negro de 21 anos, foi preso acusado de um assalto. No momento do crime, Yago comprava pão numa padaria. Ele foi preso com o saco de pão nas mãos. Só depois das imagens da padaria serem divulgadas, Yago foi solto. Ele passou dois dias preso acusado de um crime que não cometeu. Sua voz não foi ouvida, o testemunho da sua família não valeu de nada.
Até onde minha pesquisa alcançou, Johannes responde processos desde 2016. Ele pode ter cometido algum crime antes disso? É possível, mas como não há processo ou registros, não tenho como afirmar.
A grande questão aqui já está óbvia desde a primeira linha desse texto:
Um rapaz negro e pobre, teria o privilégio de cometer crimes desde 2016, mentir durante a audiência de custódia e passar 4 meses numa cela especial?
Mariana Thomaz estaria viva se a justiça tivesse tratado com rigor os processos de violência domésticas que Jhoannes responde?
E se Jhoannes fosse um rapaz preto?
Taty Valéria
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