Tente acompanhar a sequência num só golpe.
Noite de domingo, 11 de dezembro. Um homem de 31 anos marca um encontro com uma garota de programa. Ao chegar no local, é informado pela filha da mulher, uma menina de 10 anos, que ela não está em casa. A menina cuida dos irmãos: uma criança de 3 anos e um bebê de 1 ano. O homem dá a volta na casa e entra pela porta dos fundos, que estava entreaberta. Tenta estuprar a menina, que começa a gritar. O homem desfere um soco contra o rosto da criança, que cai desacordada. A mãe chega em casa quase três horas depois e encontra a filha morta.
O serigrafista Maycon Araújo Pereira, de 31 anos, foi preso em flagrante na tarde da segunda-feira (12), em Campo Grande/MS, por estupro e assassinato. A mãe da criança, já havia sido presa por abandono de incapaz, foi novamente indiciada pelo mesmo crime. O irmãozinho de 3 anos deve ser ouvido em atendimento especial por psicólogos. Como não foram encontrados outros parentes das crianças, elas serão encaminhadas para um abrigo.
“A mãe das crianças confessou que levava homens para a sua casa, já que trabalha como garota de programa e que o acesso era fácil porque a porta dos fundos da residência era só encostada com uma máquina de lavar roupas”, disse a delegada Karen Viana de Queiroz, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher).
Agora vamos falar sobre abandono.
Uma mulher abandonada por um ou mais parceiros que encontra na prostituição um meio de alimentar os filhos. Sem nos ater à questão da moralidade e sem julgamentos de valor, só podemos imaginar a relação de causa e efeito e as circunstâncias que a levaram a colocar a vida dos próprios filhos em risco eminente.
Uma menina abandonada pelo pai, pela mãe, pela família, e pelo sistema. Uma criança cuidando de outras crianças, carregando um peso que muitos adultos não são capazes de suportar e pagando com a vida o preço de ser uma menina pobre num país que odeia meninas e mulheres, especialmente as pobres.
Duas crianças pequenas abandonadas num abrigo e sentenciadas a vivenciar a infância através de uma perspectiva que nos foge do racional. O que viram? O que sentiram? Serão capazes, de algum dia, verbalizar o que viveram e suportaram?
O crime do estupro e assassinato cometido por um homem e o crime de abandono de incapaz cometido por uma mulher serão julgados pela Justiça. Mas quem irá julgar os demais crimes? A quem culpar? Quem será responsabilizado?
Quem cuida das nossas meninas? Quem cuida das nossas crianças?
da redação, com informações do Uol Notícias