Tá tendo Copa do Mundo Feminina. Não gosta? Não assiste, ué!

Nenhuma modalidade esportiva é tão popular no Brasil (e no mundo, mas vamos frisar o nosso país) como o futebol. A bola é um dos primeiros brinquedos na infância (muito ainda para meninos), a paixão por um clube une pessoas, grupos, cria rivalidades. O futebol movimenta o comércio, lota estádios, reúne pessoas. Enfim, vocês já sabem de tudo isso.

Então por que a Copa do Mundo feminina gera tanto incômodo? Eu sei, vocês também sabem, mas é preciso repetir: porque o Brasil é um país machista e o futebol foi usado como forma de dominação e repressão desde o início da popularização deste esporte.

Para relembrar a origem disso, vamos aos fatos: em São Paulo, “o recém-inaugurado Pacaembú ia receber a partida entre os times masculinos de São Paulo e Flamengo para um amistoso. Para a surpresa do público que lotava o estádio, houve um jogo antes, como uma grande atração: o Sport Clube Brasileiro e o Casino de Realengo, dois clubes do subúrbio carioca, iam se enfrentar também para um amistoso. A diferença é que, pela primeira vez, ambos os times eram inteiramente formados por mulheres. O jogo rolou e, com isso, 65 mil torcedores presenciaram a vitória do Sport por 2 a 0. Gols de Zizinha e Sarah. Era a primeira partida de futebol feminino da história disputada no Brasil”. (Fonte: Artur de Abreu Magalhães, Revista Jacobin).

O fato foi duramente criticado por setores conservadores da sociedade e por homens da imprensa da época. A pressão foi ganhando corpo, com alegações ridículas, sem nenhuma fundamentação científica de que o futebol tirava a feminilidade das mulheres e o seu “dever de ser mãe”. Sim, amigues… o nosso DEVER DE SER MÃE. Pressionado, e favorável ao discurso machista dominante, Getúlio Vargas baixou o decreto-lei 3.199, de 14 de abril de 1941, que dizia o seguinte: “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

Esta proibição durou mais de 40 anos. Só em 1983 as mulheres puderam voltar a jogar futebol. E a gente sabe o quanto uma ruptura institucional, uma violência institucional fica arraigada no tecido social. Décadas de clandestinidade, repressão e sucateamento deixaram marcas que irão demorar a sumir. Estão aí escancaradas nos discursos, nas posturas, na boca do povo e da imprensa, entre homens e, o mais triste, mulheres.

Toda essa contextualização para dizer que o futebol feminino ainda precisa muito de apoio, reconhecimento e aplausos. Se você é daquelas pessoas que ainda sustentam o discurso machista de que “futebol feminino é chato”, ou “futebol não é para mulher”, faça um favor: não assista. Agora, se você além de não assistir quiser ficar destilando o seu preconceito, saiba que você só colabora com a máquina de moer mulher que existe no Brasil. Se, ciente disso, você quer continuar, a gente lamenta e estaremos do outro lado da linha combatendo o machismo esportivo sem você.

Futebol feminino não pode ser criticado? Pode! Deve, inclusive. Mas se você não percebe a diferença entre criticar e jogar pedra, eu vou te dar um exemplo didático: o futebol feminino, comparado ao masculino, ainda está na adolescência. Precisa de incentivo, cuidado, apoio para uma profissionalização efetiva. No mundo isso já ocorreu, aqui vamos a passos lentos. Mas se todo mundo ajudar, a caminhada acontece.

Não quer assistir, não assista. Quer assistir? Vamos assistir, vibrar e torcer muito por cada passo dado por estas mulheres que não cansam de lutar e abrir caminho para as demais.

Márcia Marques

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