De acordo com pesquisa, 82% das mulheres brasileiras são contra ampliar acesso a armas

É o que mostram dados inéditos de uma pesquisa Genial/Quaest a qual a BBC News Brasil teve acesso com exclusividade.

O resultado do levantamento, feito a partir de 2 mil entrevistas presenciais realizadas na semana passada em todo o Brasil, mostra por que causou polêmica a declaração do presidente, em um evento exclusivo para mulheres eleitoras em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, no último fim de semana.

“Quando precisar trocar um pneu sozinha na rua e vier pessoas na sua direção, prefere ter na bolsa uma Lei Maria da Penha ou uma pistola? E ninguém aqui é contra Maria da Penha. Nosso governo foi o que mais prendeu machões”, afirmou Bolsonaro, em referência à legislação de 2006 que protege mulheres contra a violência doméstica.

Desde que assumiu, Bolsonaro publicou uma série de decretos e portarias que ampliaram o acesso a posse e porte de arma de fogo, armas de uso restrito e munições. Atualmente, o número de armas à disposição de civis no Brasil já supera a quantidade de armamento do contingente da Polícia Federal.

Uma análise nos dados da Polícia Federal sobre novos registros de armas mostram que os beneficiários da flexibilização no acesso a armamento foram majoritariamente os homens. A BBC News Brasil tabulou as informações obtidas pelo portal de transparência Fiquem Sabendo, que mostram na prática a diferença apontada na pesquisa da Quaest: entre 2019 e o primeiro trimestre de 2022, mais de 96% dos novos registros de armas foram feitos por homens.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, com 82 milhões de votantes, as mulheres são a maioria do eleitorado feminino (53% dos votos). Entre o grupo de 16 e 17 anos, o percentual chega a 54% e a 56% na faixa acima de 70 anos ou mais. Elas são também a maioria entre os indecisos.

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“A questão da arma é central para explicar essa diferença que há hoje entre homens e mulheres na avaliação do presidente. As mulheres entendem que mais armas representam mais violência para as famílias delas, independentemente de uma posição mais à direita ou mais à esquerda (em outros assuntos). Esse é um tema que divide a sociedade há tempos, e que não foi tão importante em 2018, mas que nessa eleição poderá ser decisivo”, afirma o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.

É justamente neste contexto que o presidente tem feito da primeira-dama Michelle Bolsonaro – uma figura até então discreta em seu mandato – protagonista nas peças publicitárias da campanha de reeleição. É também neste contexto que ele tentou sugerir, em Novo Hamburgo, que as mulheres da plateia estariam em melhor situação se carregassem consigo uma pistola.

“A afirmação do presidente é estapafúrdia. O Brasil é um país extremamente violento e a vida das mulheres é marcada cotidianamente pelas expressões da violência, do assédio até o feminicídio. E a gente sabe que a presença de arma de fogo no ambiente doméstico expõe essa mulher a um risco de letalidade muito maior, já que 90% dos agressores são os maridos ou ex-companheiros”, afirma a cientista política Marlise Matos, Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

No Brasil, uma mulher é assassinada por sua condição de gênero a cada sete horas, segundo um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública a partir de dados da violência de 2020.

com informações da BBC Brasil

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